Antonio Estrela, a baraúna da Várzea da Roça

O agropecuarista Antonio Estrela Cartaxo nasceu no dia 24 de janeiro de 1916 e faleceu no dia 9 de setembro de 2014, na Capital do Estado – estava chegando aos 89 anos de vida. Com a morte de Antonio, Cajazeiras perde um dos mais significativos exemplos de honradez, dignidade e amor ao trabalho e a cidade perde ainda mais quando desaparece um filho cujas raízes remontam aos fundadores e construtores da cidade.

Antonia Olindina do Couto Cartaxo, depois Antonia Olindina Cartaxo Rolim, esposa do Tenente Acácio de Sousa Rolim, que era filho do Comandante Vital de Sousa Rolim, que era neto de Vital de Sousa Rolim e Ana de Albuquerque, fundadores de Cajazeiras, eram os avós de Antonio Estrela Cartaxo. Do casamento de Antonia com o Tenente Acácio nasceram cinco filhos: Maria Olívia Cartaxo Rolim, Josefa Estrela Cartaxo Rolim, Vitória Cartaxo Rolim Rodrigues (Vitinha), Luís Cartaxo Rolim e Raimunda Acácia Rolim Rodrigues. É esta a origem de Antonio Estrela Cartaxo.

Josefa Estrela Cartaxo Rolim (Zefinha), nascida em Cajazeiras a 26 de outubro de 1886 e falecida em 25 de junho de 1946, a segunda filha de Antonio e Acácio, casou-se, em 26 de outubro de 1910 com o seu parente Amélio Estrela Dantas Cartaxo, filho de João Estrela Dantas e Rosa Emília do Couto Cartaxo, nascido em 3 de junho de 1889 e faleceu em 12 de agosto de 1974, e tiveram os seguintes filhos: Padre Acácio Cartaxo Rolim, Padre João Cartaxo Rolim, Padre José Cartaxo Rolim, Dalila Cartaxo Rolim, freira da Ordem das Dorotéias (já falecida), Professora Maria Estrela Cartaxo Rolim, Teresa Cartaxo Rolim e Antonio Estrela Cartaxo.

Amélio e Dona Zefinha sempre tiveram uma preocupação com a formação de seus filhos. Possuíam uma marcante formação religiosa e tiveram o privilégio de ter três filhos ordenados sacerdotes católicos, todos através da Diocese de Cajazeiras, além de uma filha freira. Antonio estudou no Colégio Diocesano Padre Rolim de Cajazeiras e foi seminarista por três anos em João Pessoa, até que resolveu dizer ao Reitor do Seminário: quero ser agricultor como meu pai e abandonou os estudos, não tinha vocação para o sacerdócio.

Antonio enamorou-se de uma pombalense, sobrinha de Monsenhor Abdon Pereira: Ana Lúcia Assis Cartaxo, com quem casou-se no dia 25 de janeiro de 1941. Irmã Dalila, sua irmã, escreveu um belo poema, com sete estrofes, para comemorar os 50 anos do casamento de Antonio e Ana e destacamos esta: “A casa pequenina na “Fazenda Várzea da Roça”, secular, / preparada pelos pais, com amor e carinho, / Presente envolvido de afeto, seu futuro e belo ninho, / celeiro de grandes homens e mulheres, de coragem invulgar!”.

E foi depois do casamento, realizado na cidade de Pombal, que Antonio e Ana começaram a construir sua vida a dois na famosa fazenda Várzea da Roça, numa casa construída pelos pais e recebida como presente de casamento, encravada no município de Cajazeiras, a cerca de seis quilômetros da cidade, onde, como versou Dalila: “enfrentaram altos e baixos, vitórias e fracassos com força total, vivendo inocentes e felizes a caminhada, admirando os encantos mágicos da natureza, gozando a tranqüilidade do campo, em exuberância e beleza, no cantar dos passarinhos e no perfume das flores à beira da estrada”.

Antonio, a exemplo do velho pai Amélio, a quem amava e admirava, com o suor do rosto e com as mãos calejadas, retirou da terra abençoada da Várzea da Roça, os recursos necessários para formar e dar educação aos seus onze filhos, numa época em que não existiam ainda as escolas públicas. Antonio deve ter feito igual ao seu pai, que só pagava os estudos dos filhos, no final de cada ano, quando apurava o dinheiro com a venda do algodão, porque o dinheiro do leite era para cobrir as despesas com os trabalhadores da fazenda.

Nos tempos áureos da fazenda, Amélio e Antonio produziam o algodão, fabricavam farinha de mandioca, rapadura e aguardente, além do milho, feijão, arroz e oiticica. A professora Maria Estrela ainda guarda como lembrança uma garrafa de aguardente destilada no alambique da fazenda. Todos esses encantos da terra fizeram parte do passado de Antonio Estrela Cartaxo e de Ana Assis.

Do casamento de Antonio e Ana, nasceram onze filhos: João Vianey Assis Cartaxo, engenheiro Civil; Marineide Cartaxo Paulino, professora; Maria do Socorro Cartaxo, Assistente Social; Marinete Cartaxo, professora; Marileide de Fátima, economista; Maria Auxiliadora, professora; Marcos Antonio, médico; Vera Lúcia, médica; Anacélia Cartaxo, Odontóloga; Paula Cartaxo Bastos, Psicóloga e Albert Einstein, Engenheiro Agrônomo.

Antonio deixa ainda vinte netos e cinco bisnetos, que somados aos filhos representam uma vida, que ao se extinguir aos quase 89 e nove anos, simboliza toda uma existência rica e cheia de esplendor. De 25 de janeiro de 1941 a 9 de setembro de 2004, Antonio e Ana viveram juntos 63 anos, “vibrando num só coração, unidos na fraternidade das noras, dos genros, netos, bisnetos e todos os irmãos, no abraço de solidariedade, paz e felicidade”, como citou Dalila em seus versos dedicados ao casal.

Era preciso que Antonio e Ana tivessem mesmo onze filhos, para compensar os outros irmãos que não os tiveram por terem feito votos de castidade, ou como no caso da estimada professora Maria Estrela que preferiu ficar solteira para cuidar do pai e dos irmãos sacerdotes.

Com a morte de Antonio, tomba a grande baraúna da Fazenda Várzea da Roça, mas não cai por terra o exemplo de filho, de pai, de irmão, de esposo e avô e de homem que honrava os seus compromissos e era fiel aos seus amigos.

Cajazeiras ficou mais pobre ao sepultar Antonio, no último dia 10, no cemitério Coração de Maria e perde um filho que foi símbolo de uma geração de homens fortes e gigantes que fez o período de ouro da economia cajazeirense.

As lascas da lenha da baraúna, hoje espalhadas por estes brasis afora, simbolizadas por sua geração, haverão, de ao se transformarem em fogo, continuarem a clarear os caminhos de Antonio na eternidade.

Fica o exemplo de Antonio Estrela para as gerações futuras. A história lhe fará justiça e Cajazeiras lhe deve homenagens.

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