A terra dos pidões

Cajazeiras, “a terra que ensinou a Paraíba a ler” , ainda  a auto proclamada Terra da Cultura,  tem em seus diversos seguimentos “culturais” um aspecto peculiaríssimo, seria  de forma muito apropriada, “a terra dos pidões”. De fato, qualquer um que seja de alguma origem, bem como qualquer pessoa que tenha a fama de “ter dinheiro”, é constantemente assediado por uma legião de sujeitos e sujeitas que chegam para você e na maior cara de pau, lhe pede um dinheirinho, no meu caso mais ou menos assim: “Doutor me dê cinco reais”, ou “me pague uma caninha”, assim como se a gente como que por algum motivo devesse àquele cidadão.

Quando eu era criança, minha avó, D. Cartuxinha, mais às quintas feiras, ela distribuía esmolas, que essas eram constituídas de uma cuia de farinha de mandioca, e algum trocado, que ela mesma pegava de meu avô as notas velhas de dinheiro miúdo, que ela mesma consertava usando “grude de goma” e fazia essa distribuição. Agora o que a gente notava naquele tempo, e que na grande maioria das vezes eram famélicos, o popular esmoler que recebia aquilo para comer.

Agora, e desde o tempo que eu formado vim a residir na Terra do Padre Rolim, o pedinte tanto é de outro tipo, quanto a o que ele pede tem outra função. Você chega num bar e se pede uma bicada, mesmo que hoje eu não mais bebo, mas vivo sendo solicitado a fazer esse tipo de favor, como, caminhando na rua ou parado, conversando com conhecidos, vem aquele sujeito e lhe chama num canto e lhe pede “um dinheirinho”. É como se você devesse àquela pessoa.

Fatos semelhantes ocorrem com vários amigos, às vezes políticos, como Wilson Braga chegava numa cidade e trocava dinheiro para ter notas de pequeno valor para satisfazer essa multidão do óbulo, no caso como que comprando votos por trocados, e ainda a gente que mesmo não esteja militando na política, vive sendo assediado por esse tipo de pedido incômodo.

Me lembro de um fato narrado pro meu primo Estenio Pires Cordeiro, que estava dentro do Cine Éden, e o porteiro foi lá dentro lhe chamar. Ele pensando que se tratava de uma coisa grave: veio à portaria do cinema e um conhecido (para não dizer o nome correto – asilado), pediu para que ele lhe pagasse a entrada, ante a recusa, ele ainda pediu um dinheirinho… Estenio, e com razão, ficou possesso.

Meu amigo-irmão Sabino Filho nem gosta de passear pelo centro da cidade, para não ser importunado dessa forma, ele diz que é um fenômeno cultural. João Claudino, quando passa alguns dias aqui, eu sempre vou lhe fazer uma visita. E na fila dos que “querem falar com Seu João” se notam vários desses que vão lá só pedir dinheiro.

Eu que resido aqui, e pertenço a “família tradicional”; em termos de Cajazeiras, é claro, nada que se compare à Tradicional Família Paulistana de 400 anos, vivo constantemente assediado por esse tipo de gente, a ponto de evitar de frequentar certos locais, onde sei existirem muitos desses “cabeceiros”. Depois do advento da droga, especialmente o crack, a coisa ficou pior, pois a gente não consegue distinguir quem está com carência de alimentos ou está pedindo para alimentar o vício.

Certa ocasião, eu estava na Feijoada da Ciçinha, que era próximo à Praça São João Bosco, vizinho a NPR, e a gente escolheu exatamente a última mesa. O bar estava cheio. Veio o pidão, e entrou no ambiente, avaliando cliente por cliente. Até que me viu e mando a “solicitação”: Doutor, o senhor não tem um dinheirinho que possa me dar? Então eu dei a seguinte resposta: ”Meu amigo, você viu aqui nesta bar, mais de vinte pessoas, será que somente eu tenho cara de otário?”.

Esse assédio constante, e por vezes impertinente é para mim, alguns “profissionais da cabeçada” ficam lhe incomodando (e incomodando quem estiver com você), até que se arrume um trocado para se livrar,  uma das coisas piores que temos aqui. Deve ter casos semelhantes noutras cidades, mas como vivo aqui, faço meu registro. Nessa crise, esses pedidos aumentam de uma forma que você consegue até avaliar a dimensão da crise pela quantidade desse tipo de pedido.

Cabeçada também é cultura… Mas para os oblatos, é muito chato!!!

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