A revolucionária Rita Lee

No início do mês de março lancei um livro intitulado REVOLUCIONÁRIAS. Nele procurei traçar o perfil de quarenta brasileiras, protagonistas da história nacional, que se destacaram por terem sido combatentes na luta para vencer preconceitos, discriminações e regras de convivência social determinadas por culturas machistas e patriarcais. Foram mulheres que, corajosamente, romperam paradigmas e passaram a ocupar espaços só permitidos aos homens.

O trabalho se restringia a elaboração de sínteses biográficas de personalidades já falecidas. Se tivesse demorado mais dois meses para concluir o livro, certamente, agora, uma delas teria sido merecidamente incluída: Rita Lee.

Indiscutivelmente ela promoveu uma revolução no comportamento feminino nas décadas de 60 e 70, sem necessariamente carregar a bandeira do feminismo. Fez tudo ao seu jeito. Com seu espírito irreverente, ousou ao cantar sobre o sexo e outros temas proibidos para serem abordados pelo universo feminino. Na sua música expunha, sem falsos pudores, a realidade das mulheres brasileiras. Adorava desafiar o conservadorismo.

Experimentou, em vida, tudo o que desejou, sem qualquer preocupação em saber se estava agradando ou desagradando quem quer que fosse. Exatamente porque era, mesmo sem essa intenção, uma revolucionária. Não se intimidava em ser pioneira, tanto nas performances musicais, quanto na forma de agir e de pensar. Fazia da sinceridade uma característica que a tornava diferente, icônica, singular. Inspirou gerações de novos artistas, até na forma de se vestir. Soube, como ninguém, construir uma identidade visual única.

Vai deixar saudades. Não só pelo legado musical de sua obra artística, mas pelo seu jeito divertido, provocativo e poético com que se manifestava contra os padrões do falso moralismo que dominava o ambiente em que vivia. Não tinha “papas na língua”, como se diz popularmente quando queremos classificar uma pessoa polêmica.

Foi a cantora mais censurada na época da ditadura militar. Estava grávida quando foi presa nos “anos de chumbo”, E foi, também, a que mais vendeu discos na historia da música brasileira. “Fez parte do movimento do tropicalismo, integrando o grupo “Os Mutantes” e deixou uma marca na história da música nacional e internacional.”. Não gostava de ser chamada a “rainha do rock brasileiro”. Preferia ser classificada como a “padroeira da liberdade”.

No seu livro autobiográfico, lançado em 2016, assim se referiu ao dia em que morresse: “Quando eu morrer imagino as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão o “Ovelha Negra”, as TVs já devem ter na manga a minha trajetória para exibir no telejornal do dia. Nas redes virtuais alguns dirão; ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca estive presente no palanque de qualquer um deles e me levantaria do caixão para vaiá-lo. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus Thank you Lord, finally sedated”.

Faço questão de colocar Rita Lee, entre as “revolucionárias” às quais decidi prestar homenagens e reverenciar. Ela é eterna.

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