A religião e a política

Quando vemos alguns fanáticos misturarem política com religião, passamos a duvidar do sentimento de cristandade que se esforçam em propagar. Ao que se percebe buscam colocar a religião muito mais como identidade política do que uma definição de fé. A liberdade de culto religioso que o Estado oferece, na condição de laicidade, contudo, dificulta a separação das práticas estabelecidas para a religião e a política. O que não pode é vincular incorretamente as duas coisas, tornando-as instrumentos de fortalecimento um do outro. Isso acontece nas oportunidades em que se evidencia o fundamentalismo, adotando o absolutismo das próprias ideias. É histórico o aproveitamento dos discursos religiosos pelos políticos oportunistas, independente do matiz ideológico das manifestações, sejam eles da direita ou da esquerda.

O debate público pautado pelo campo político tem ensejado uma relação intrincada entre as crenças e os posicionamentos ideológicos. O problema maior é quando se verifica que a religião marca presença nos palanques políticos, explicitando confrontos desnecessários. Fogem dos princípios básicos de qualquer religião os discursos da intolerância, incentivo aos conflitos pessoais e as manifestações de discriminação e preconceitos. Inadmissível que apareçam porta-vozes da verdade suprema, desprezando a pluralidade de pensamentos na convivência entre os indivíduos numa sociedade.

Mais grave ainda quando o “messianismo” se transforma em ódio, ultrapassando os limites da legalidade, deixando a população vulnerável, diante da insensatez que caracteriza posturas de falso moralismo e obscurantismo. É inconcebível a apaixonada veneração a lideranças políticas como se fossem “salvadores do apocalipse”. Os paladinos da moralidade, como são apresentados, não se comportam de forma a acreditar nessa imagem construída. São farsantes, usam do proselitismo religioso para alcançar objetivos voltados exclusivamente para se posicionarem no apogeu do poder. 

É preciso proteger os princípios humanistas de igualdade entre todos os cidadãos. Isso tem a ver com os ensinamentos da fraternidade cristã. Respeitando as diferenças, estaremos, também, respeitando a democracia que garante um ambiente de justiça social tão necessário. Fomentar “partidarização” da religião é a tentativa de impor interesses de um grupo sobre outros. A religião nos permite reconhecer e respeitar as regras políticas a partir do mandamento religioso, sem, portanto, assumir o aspecto coercitivo. Nem se constituir razão de obrigação política. O que não representa dizer que integrantes de igrejas se eximam de expressar suas opiniões, segundo suas convicções, ou serem ativistas na militância política, desde que obedecendo preceitos éticos. As igrejas, como qualquer outra instituição civil, têm o direito de contribuir para as pautas políticas aderentes às suas crenças e visões de mundo. 

Entendo que a religião, pode e deve funcionar como alavanca capaz de produzir comportamentos individuais e coletivos politicamente úteis. Porém, não deve ser aceito o mandamento religioso como disfarce à norma política. Recomenda-se, então, o seu uso com a devida prudência, utilizando argumentos racionais para convencimento de protagonismo político. A religião jamais deve se prestar a ser instrumento de manipulação dos interesses dos poderosos em detrimento dos desprotegidos pelas políticas públicas. Nunca perdendo sua ligação com a liberdade e o bem comum. E encontrar na religião a fonte de inspiração para o exercício do patriotismo, em estrita obediência aos princípios do cristianismo, já que essa é a religião professada majoritariamente em nosso país: amar a Deus sobre todas as coisas, sem utilizar o Seu nome em vão; amar ao próximo como a si mesmo e compreender que as pessoas são mais importantes do que coisas.

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