A Lava Jato não morreu

Uma simples e rotineira investigação de lavagem de dinheiro em 2014, contra doleiros, puxou um novelo sem fim de crimes de corrupção envolvendo políticos, empreiteiros, diretores de estatais que levou ao desmantelamento do chamado Petrolão, o maior e mais audacioso e maior esquema de corrupção do país gestado nas entranhas da Petrobras. As investigações comprovaram as relações criminosas do doleiro Alberto Youssef com o diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa que desnudou a engrenagem corrupta do sistema politico brasileiro.

E foi na esteira desse escândalo que surgiu a Operação Lava Jato, a princípio exitosa e com um forte apoio popular que depois se transformou numa poderosíssima força-tarefa composta por procuradores do Ministério Público Federal em Curitiba, Policia Federal, Receita Federal, e o Conselho de Controle de Atividade Financeira (COAF) que culminou na prisão de dois ex-presidentes da República, empresários, diretores e funcionários de estatais e políticos ligados, na grande maioria, ao Partido dos Trabalhadores.

Foram ao todo, 79 fases, com 268 prisões, 1.450 buscas e apreensões mais 200 decisões colegiadas no STF restando apenas seis inquéritos nas mãos do relator do ministro Edson Fachin que resultou na recuperação para os cofres públicos de R$ 2 bilhões [isso apenas de pessoas físicas] via delação premiada onde os corruptos confessaram o crime se comprometendo a devolver parte do dinheiro surrupiado. Isso é fato.  

A operação que surgiu como uma verdadeira cruzada contra a corrupção endêmica instalada no país, começou a ruir em 2018, quando então juiz Sérgio Moro da 13 ª Vara da Justiça Federal em Curitiba expoente maior destas investigações, Sergio Mouro, resolveu aceitar o cargo de Ministro da Justiça no governo Bolsonaro. A partir daí começaram a pipocar por todo Brasil, ilações e suspeitas que a operação estava manipulada por um viés politico partidário de escopo direitista que deu origem a chamada República de Curitiba. Mas o golpe veio mesmo em 2019 quando o site The Intercept Brasil passou a postar uma série de reportagens, chamada de “Vaza Jato”, que expunham diálogos comprometedores que evidenciavam um conluio entre o Juiz Moro e os procuradores federais que compunham a força-tarefa da Lava jato. Nestes diálogos os envolvidos combinavam datas e procedimentos para convocação de testemunhas que foi considerado pelo  STF como um pratica ilegal que levou o MPF a extinção da operação em 2021.

Obvio que existiram os excessos e abusos ao longo de sete anos desta operação que deveriam ser apurados em toda sua extensão com os culpados afastados e rigorosamente punidos, contanto que a Operação Lava Jato depois de passar por um processo aprimoramento fosse preservada.

Não foi o que aconteceu. Sepultaram o nosso maior instrumento combate de corrupção do Brasil que deflagrou uma onda de impunidade institucional de cunho ideológico chancelada pelo STF que anulou todos os processos dos envolvidos inclusive suspendendo o pagamento de multas bilionárias de empresas [só da J&F R$10,5 bilhões] comprovando de vez que no Brasil o crime compensa.

A Lava jato pode ter errado no método, mas não no seu objetivo. Pesquisa recente da Genial/Quaest mostra  que 58% dos brasileiros manifestam que a Lava Jato fez mais o bem que mal e que 74% acreditam que o STF  incentiva à corrupção no Brasil ao interferir nos acordos de leniência firmados durante a operação. Esses números denotam claramente que a “estratégia do esquecimento” adotada pelo sistema de apagar a história com falsificações de verdades, não funcionou. A Lava jato não morreu!

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