A homenagem e o preconceito

Fui convidado, mas por ter sido verbal, e minha memória já me falta, não compareci à uma Sessão Solene na Câmara de Vereadores, em que um dos homenageados seria o meu amigo de longa data Jackson Ricarte, inclusive disseram que seria a entrega de um título ao nosso sacerdote afro–brasileiro.

Conheço desde o tempo do Educandário Sta. Terezinha, que sua tia, a saudosa D. Zefinha Ricarte era diretora, e desde sempre mantenho laços de amizade. Apenas no outro dia através do vereador Eriberto da Cagepa, soube que havia perdido a Sessão, e que teria sido, segundo ele muito interessante…

Agora, vem o fato mais marcante: sempre que eu menciono Jackson para pessoas mais distantes, quase todo mundo pergunta logo: “O macumbeiro??”, como se isso fosse coisa de outro mundo, denotando um preconceito que teima em ainda existir. Então vou aproveitar o espaço e evocar – lembrar (por favor não confundir com invocar – chamar) fatos e pessoas que acho pertinentes. Nem vou me alongar sobre minha mãe, que havia uma foto de Jackson e Geralda com ela, estes paramentados de Filhos de Santo, que infelizmente perdi, mas vamos citar outra figura emblemática e controversa de nossa comunidade, Dr. Julio Bandeira.

Este fazia há tempos duas coisas que eu gostava muito, acarajé e especialmente uma feijoada baiana, todos esses pratos deliciosos. Eu via Dr. Julio em Terreiros, Centros Espíritas, na Igreja, e uma vez tive a curiosidade de perguntar a Dr. Julio: “Mas afinal qual seria sua religião?” A resposta, eu além de me lembrar, acho corretíssima, ele me respondeu: “É tudo a mesma coisa, Pepé!”

De fato, e eu acredito, existem diferenças, uma pelo menos mais marcante para mim, que já andei em tudo quanto é seita, crença igreja; os cultos evangélicos e mais ainda os Pentecostais (Jesus cura através do Espírito Santo), eles tem uma crença que só o culto deles salva, o resto vai p’ro inferno (considerando o bilhão de muçulmanos do mundo, e haja inferno…), diferentemente os cultos afro – brasileiros são includentes, e tomemos por exemplo, o recenseamento de Mãe Menininha, a mais conhecida Mãe de Santo do país na década de 80, ela se disse Católica Romana; isso quando ela era já uma celebridade nacional ligada ao candomblé…

Outra coisa que queria evocar também, foi um fato que vivenciei com o também já falecido Prof. José Clementino, outra figura que muito nos faz falta: Uma vez ele falou que havia uma festa na casa de Jackson, então fomos. Era a celebração do terreiro dele, que até hoje fica no Bairro da Esperança. Como já conhecia alguma coisa dos ritos do candomblé da Bahia, fiquei admirado com o fato de aqui em Cajazeiras haver um centro que fazia esses rituais e com qualidade e bom gosto, muito semelhante ao que tinha visto lá na Boa Terra, somente que aqui em Cajazeiras. Esta festa se repete até hoje, e da mesma forma, tudo comandado por Jackson, que poderíamos dizer, o mais importante Pai de Santo da região, reconhecido inclusive na capital.

Outro fator que eu ouso comparar, seria o fato de que o que meu amigo faz por aqui, fica aqui, diferentemente de outras “Igrejas de franquia” (eu considero os M’cDonald’s da fé), em que certa parte dos donativos, vai para a Matriz. Recentemente li e me escandalizai, que a fortuna de Edir Macedo seria de 1.7 bilhão, e do Pastor Valdomiro de 500 milhões, isso em parte coletado de centros menores como aqui, que os mesmos tem filiais.

Então fica injusto o preconceito que coloca esses cultos afro – brasileiros num patamar mais baixo que os outros, inclusive sendo uma ilegalidade, já que a Constituição considera a liberdade de culto um direito fundamental. Esse fato, que também se propala de sacrificar animais, se uma pessoa ler a Bíblia, os pais de Jesus, juntamente com todos os judeus da época também faziam estes sacrifícios, inclusive numa das mais famosas parábolas de Jesus, a do Fariseu e do Publicano, ele trata de sacrifícios, e ainda tem o de Abraão com Isaac, etc. Mas como não sou expert nesse e noutros campos, paro com minha ignorância por aqui…

Apenas aproveito o espaço para lembrar a homenagem prestada a Jackson (o próprio Jackson me disse que nunca foi vítima de qualquer preconceito, mas pelo que me falam na ausência deve ser por respeito cerimonial), achar justa uma homenagem aos cultos  de nossos ancestrais africanos (No Brasil todo mundo tem um pé na cozinha; frase do ex-presidente FHC) , e lamentar minha ausência…

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