A cumplicidade da covardia

A covardia no ser humano se manifesta de várias maneiras. Há os covardes explícitos, aqueles que não escondem o comportamento pusilânime, e os covardes medrosos, passivos, apáticos. Ambos são perigosos e nocivos à sociedade. Uns se revelam agressivos, principalmente quando atacam indefesos. Outros se fingem de bonzinhos, mas na prática causam danos a outros sem qualquer constrangimento.

Identificamos no nosso convívio, indivíduos que se destacam pela ausência de coragem em agir por conta própria quando se faz necessário. Esses têm receio de contrariar o senso comum. Preferem estar sempre ao lado dos vitoriosos. E, por isso mesmo, fingem concordar com o que os poderosos dizem e fazem. Agem condicionados pelo conformismo. São alcançados por um estado de paralisia, causado pelo medo e a insegurança.

A covardia é o oposto da bravura e da coragem. Por não terem confiança em si mesmos, os covardes são, por natureza, indecisos, nunca se mostram capazes de enfrentar uma luta. Desistem dos embates nas primeiras dificuldades ou nas primeiras ameaças. Mahatma Gandhi, na sua extraordinária sabedoria, disse que “os covardes morrem, muitas vezes, antes de morrer”. Ao se depararem com as consequências desagradáveis de suas próprias escolhas, afirmam que tudo acontece por obra do destino.

Fazem do silêncio sua arma predileta. São omissos, alienados, resignados. Vivem conforme os seus interesses pessoais. Adotam a política do olhar para o próprio umbigo. O covarde contribui para que uma coletividade chegue a pagar o preço da submissão. Quanto maior for o número de covardes, mais ficamos reféns dos opressores. É o que, em 1548, Étienne de La Boétie classificou de “servidão voluntária”. Praticam a obediência subserviente. Interessante que forjam mentiras em que passam a acreditar, para não saírem da zona de conforto em que se instalaram, ignorando, portanto, motivos que os induzam à luta que se evidencia necessária.

A fraqueza humana, então, se curva perante a força, porque passa a tolerar a própria ignorância e se nega a compreender a capacidade mental de reagir e buscar novos caminhos. É a ocasião em que nasce a estupidez conscienciosa. O silêncio guardado diante do opróbrio revela-se um ato de mediocridade, aleivosia e cumplicidade.

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