A bomba-relógio

Para o bem ou para o mal, nasci e me criei e até hoje vivo, em Cajazeiras, conheço muito profundamente os costumes locais. Eles foram herdados por nossos ancestrais que com o pouco que tinham ou recebiam, haviam de sustentar suas famílias, que no passado mais do que hoje eram bastante numerosas. A minha família mesmo, com dois descendentes, era considerada pequena; mas o conservadorismo de nossos ancestrais, eu tenho bem guardado dentro de mim.

Uma característica desse era que o antigo era bom, tudo que era velho era mais durável, que quando cursei Direito aprendi como o princípio “Rerum sic stantibus” tradução: “as coisas devem ficar como estão”. Nas casas, que se alguém tiver oportunidade de ver alguma fotografia das construídas no norte de Portugal, vê semelhanças impressionantes, eram pequenas, sólidas e de cumeeiras altas, e essas tais altas cumeeiras tinham também uma função extra, dispersar o calor gerado na casas por quem morava lá, e seus fogões, animais de estimação, etc., para o alto e sair pelas telhas de barro. Depois veio a moda de se forras as casas geralmente com gesso, o que ao lado deu embelezamento, trouxe duas inconveniências: primeiro as casas ficaram mais quentes, e segundo esse tipo de forro não permite que se cheque o estado tanto das linhas de madeira, quanto o das instalações elétricas.

Com passar do tempo, e com o transitar de animais, domésticos ou inconvenientes, gatos, ratos, e demais inseto, que vivem a transitar ou mesmo a habitar essa área entre as telhas e o forro, além desse receber as poeiras que se vão acumulando com o passar do tempo. Tudo isso faz com que quem está a habitar uma casa dessas, ignore completamente o que acontece acima de seu forro, e a não ser que surja alguma goteira que fure o gesso, a alerte os moradores para conserta-la, não se presta atenção.

Então o tempo e a gravidade se encarregam de algumas vezes, quando o limita chega, de fazer seu papel, que algumas vezes tem sido catastrófico, o telhado cai algum pedaço, ou como sucedeu no Melo Supermercado, o telhado caiu todo, graças a deus num final de semana e os danos foram apenas materiais, ou em alguns casos que de um curto-circuito desapercebido, o prédio veio a se incendiar, o caso mais famoso foi o da Ivone Boutique, e outro ponto comercial na Pe. Manoel Mariano que em ambos os casos a perda material foi total.

O centro de nossa cidade está repleto de casas, residenciais ou comerciais, em semelhante situação. Nós deveríamos ter, seja do âmbito da gestão pública, seja de forma privada, que esses prédios sejam a tempos regulares, vistoriados, e que se evitem os casos danosos que relatei, mas como nossa sociedade que eu mesmo sou produto dela, temos o princípio de “gastar o mínimo, economizar o máximo”, é a pedra angular de nossa sociedade, assim como o de nossa região.

Se fossem vistoriados esses prédios, o que iria ser encontrado, e o que poderia ser consertado, certamente se gastaria menos do que um acidente provocar a o colapso de uma estrutura arcaica e comprometida, ou o incêndio de instalações elétricas em situação semelhante.

Quando fui a dar um depoimento em Patos ao Procurador do Trabalho de lá, e estava presente também o de Campina Grande, e eu falei que Cajazeiras e a região eram uma enorme Boate Kiss, a esperar a fagulha da “gurizada fandangueira”, que incendiou aquela boate, eles “mandaram anotar essa parte do depoimento”, foi anotado, e pelo que vi deve ter sido esquecido.

Mas com tanto que temos para resolver, miséria, fome, violência, esse estado frouxo, e o digo em termos de pouco se preocupar com os seus cidadãos, educação saúde e segurança, temas absolutamente essenciais, são relevados a segundo plano, a segurança de espaços públicos ou privados iria por acaso, ser prioridade? Ninguém está nem aí.

Mas mesmo no deserto, continuo a pregar, enquanto tiver dedos e espaço, vamos levando à, frente essa cruzada, que como a Cruzada Original. foi um fracasso, os cristãos daquele tempo foram derrotados e perderam Jerusalém, essa pode prosperar, e chegar a um bom termo.

Fico.

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