Zuca Alencar, o último comunista

JOSÉ ALENCAR SOBRINHO

* Quixadá (CE), 15/09/1926
+ Cajazeiras (PB), 05/01/2006

Natural do município cearense de Quixadá, José Alencar Sobrinho chegou a Cajazeiras na década de 1940, onde constituiu família e iniciou militância política. Demonstrando forte tendência pelos ideais socialistas, foi logo convidado pelos principais líderes comunistas locais, entre eles, Sabino Coelho e Sabino Rolim, a fazer parte dos movimentos programados pelo Partido Comunista Brasileiro.

Depois da morte do médico Sabino Rolim, Zuca Alencar passou a ser considerado, por muitos, o único militante comunista vivo da época. Ele participou intensamente das lutas comunistas locais ao lado, inicialmente, de Sabino Barbado e, mais tarde, de Cajá, Luís Alves e outros combativos militantes.

ZUCA ALENCAR PARTICIPOU ATIVAMENTE DA VIDA POLÍTICA LOCAL NAS DÉCADAS DE 1940 A 1960

Em entrevista, em 2002, ao Gazeta do Alto Piranhas, quando contava com 76 anos de idade, Zuca Alencar lembrou de poucas passagens da história do comunismo em Cajazeiras. Contou que era uma época de muitos acontecimentos extraordinários, que marcaram a vida política de Cajazeiras e do Sertão. “O velho PCB viveu intensa movimentação. Era um tempo de muitas perseguições e prisões”, lembrou, emocionado.

O histórico comunista cajazeirense pouco lembrou o movimento de 1946 que, em Cajazeiras, lançou o nome de Sabino Barbado como deputado estadual constituinte. Era uma orientação da cúpula nacional, segundo afirmou, de tentar eleger um bom número de deputados comunistas constituintes, em todo o país. Em Cajazeiras,a candidatura de Sabino Guimarães Coelho não obteve êxito.

Outro forte movimento dos comunistas cajazeirenses, na opinião de Zuca Alencar, aconteceu na década de 1960, com a criação do Grupo dos 11. O movimento, segundo explicou, era uma proposta nacional idealizada por Leonel Brizola com o objetivo de impedir um golpe contra o então presidente João Goulart. Disse que a orientação era para se formar, em cada cidade, um grupo de onze pessoas dispostas até a pegar nas armas, se fosse preciso. Ele confirmou que integrava o Grupo dos 11 de Cajazeiras, apesar de nunca ter defendido a luta armada.

“Sempre preguei a luta das ideias, pelo ideal, sem derramamento de sangue”, esclareceu.

Além dos grandes movimentos nacionais, que refletiam nas lutas dos comunistas de Cajazeiras, Zuca Alencar lembrou alguns momentos interessantes que marcaram a militância de Cajazeiras. Citou a campanha pela criação do tradicional Colégio Estadual de Cajazeiras, que, segundo ele, sofreu restrições por parte de setores da Igreja Católica local. Esses segmentos, na opinião do velho comunista, entendiam que a instalação de uma escola pública na cidade poderia provocar um declínio no ensino particular, desenvolvido nos colégios mantidos pela Diocese. “Esse entendimento provocou a reação dos comunistas”, declarou.

Zuca Alencar contou que um fato importante mobilizou os comunistas de Cajazeiras, num dos momentos mais fortes do regime de repressão. Foi quando um grupo de pessoas invadiu a sede do PCB local, instalada na Avenida Presidente João Pessoa. “A memória não consegue mais lembrar a identificação do grupo, mas foi uma coisa horrível. Houve reação. Parece que alguém chegou até a fazer alguns disparos de revólver”, lembra.

No início da década de 1970 e com o fim do pluripartidarismo, os comunistas se abrigaram no antigo MDB, partido de oposição ao regime militar. Em Cajazeiras, Zuca Alencar participou da primeira campanha do advogado Bosco Barreto, na disputa pela Prefeitura Cajazeirense. Foi um dos integrantes da equipe que elaborou o plano de governo do candidato emedebista.

Bosco Barreto perdeu para o também advogado Antônio Quirino de Moura, mas várias propostas de governo do então candidato oposicionista sugeridas por Zuca, Joaquim Alencar, Luís Alves, entre outros, foram aproveitadas. Ele lembra bem de duas sugestões: perfuração de poços artesianos para garantir água em algumas localidades da zona rural e a instalação de um posto da Fename, para vender material escolar mais barato aos alunos filhos de trabalhadores.

Na política de Cajazeiras, Zuca Alencar também teve uma pequena participação nas articulações para fundar o PT cajazeirense. Sempre acreditou que a saída para se resolver os graves problemas de injustiça social passa pelas grandes lutas populares e o fortalecimento da democracia.

Zuca Alencar sempre foi um estudioso dos problemas políticos e sociais nacionais e internacionais. Na Cagepa de Cajazeiras, onde trabalhou durante vários anos, em casa ou na rua, o velho comunista era sempre visto com um livro debaixo do braço. É considerado um autodidata, pois frequentou a escola apenas três anos, mas sempre manisfestou profundo conhecimento nas áreas de Filosofia, Física e Química.

Zuca Alencar foi casado com Dona Francisca e, em Cajazeiras, dividia o seu tempo com os filhos Eugênio e Pietro. Faleceu no dia 5 de janeiro de 2006, aos 79 anos, tendo a política nacional e internacional como o seu papo preferido.

GAZETA DO ALTO PIRANHAS – ANO 4 – Nº 179 (24 A 30 DE MAIO DE 2002)

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