Os desbravadores do norte

VALIOMAR ROLIM

Corria a segunda metade da década de cinqüenta e o interior do estado do Maranhão começava a ser ocupado abrindo-se um novo eldorado. Para os sertanejos dos estados do Nordeste oriental vislumbravam-se oportunidades numa terra em cujo dicionário não existia a palavra seca. Chegavam histórias dando conta de aventureiros que, partindo do nada, haviam feito a vida tonando-se ricos e influentes. Pequenos comerciantes migravam para, pouco tempo depois, retornarem em visita às famílias ostentando a prosperidade recém adquirida.

Waldemar Rolim, comerciante estabelecido há alguns anos na cidade de Cajazeiras no sertão da Paraíba, mesmo sendo conhecido pôr seu comportamento conservador e aversão às aventuras, resolveu fazer uma experiência naquele mercado que se abria como um filão de ouro que de repente se deixava mostrar. Organizou uma expedição composta de dois integrantes a quem foi confiada a missão de reconhecer a terra maranhense negociando com um caminhão de tecidos.

Na partida os nossos viajores eram só esperança, as famílias, os amigos, os conhecidos, todos compareceram, parecia, guardadas as devidas proporções, o início da entrada de uma grande expedição bandeirante. Viajaram levando na bagagem sonhos do retorno vencedor, do sucesso, da fortuna. Suas mentes eram acalentadas pôr ilusões que como no mais colorido caleidoscópio projetavam um turbilhão de imagens que, no transe em que se encontravam, sentiam-se protagonistas de um filme épico romano numa seqüência de entrada triunfal no retorno de uma campanha vitoriosa.

O tempo foi passando e com ele a ansiedade foi aumentando, pessoas e novidades chegavam das bandas do Maranhão dando conta da vida de todos que para lá se abalaram, todos, menos nossos “bandeirantes”. Os familiares, pressionando Seu Waldemar, aumentavam o valor pedido a cada semana, à medida em que, pedindo notícias, manifestavam sua preocupação e desconfiança com o que poderia ter-lhes acontecido.

Depois de ver estourados todos os prazos e de ter sido pressionado de todas as formas, Seu Waldemar já estava para enviar emissários à cata dos aprendizes de bandeirantes quando foi chamado à coletoria estadual (na época ainda não existia telefone interurbano) atender a uma chamada radiofônica. Eram seus vendedores que pediam socorro. Depois de tanto tempo haviam conseguido uma maneira de comunicar-se e reportavam-se em situação de penúria. Acabara-se o dinheiro, não conseguiram vender o produto e estavam empenhados (eles e as mercadorias) em uma pensão no interior do estado do Maranhão.

Inteirado da história desde o começo, José Matias Moreira, sobrinho de Seu Waldemar,  cabo do exército em gozo de licença, ofereceu-se para ir ao Maranhão resgatar os desventurados desbravadores e resolver aquela parada.  Foi de pronto aceito, iniciando naquela oportunidade uma brilhante trajetória no mundo dos negócios.

Chegando à pensão, Moreira, depois de constatar que quase nada da mercadoria havia sido vendida, quitou os débitos contraídos pêlos brancaleônicos expedicionários e, de cara, deu-lhes o bilhete azul pouco ou nada lhes pagando, procedimento que, justificava-se, era prá ensinar cabra besta a viver. Passeou pela cidade, observou o comércio, conversou com as pessoas e, só então, começou a tomar as providências para desovar toda aquela mercadoria.

Molhou todo aquele lote de tecidos que, na manhã seguinte, foi transportado para a principal praça da cidade onde, depois de aumentar os preços, anunciou a venda de tecidos da melhor qualidade a preço de banana pôr terem sido molhados na chuva.

Vendeu tudo em um só dia.

VALIOMAR ROLIM, MÉDICO E EMPRESÁRIO

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