O bêbado

Nas inúmeras vezes em que os Penetras saíam para as farras, a cachaça era grande. No grupo, havia aquele que ‘conversava com a garrafa’ e não se embriagava facilmente, enquanto que outros nem cheirar o copo podiam… Isso era natural

As serestas (fazia-se por qualquer motivo) feitas na maioria das ruas da cidade, ou onde se encontrava uma “paquera”, ou namorada, lá estava a turma. Não importava a distância. A bebida, nem se fala… O som rolava solto. Com isso vinha a “dor de cotovelo” pela amada, que aumentava e embalava seu sono pela noite afora. Assim, os fins de semana se resumiam nessa curtição até altas horas da madrugada.

Pois bem. Entre um gole e outro, o penetra Giquirí logo se embebedava, “esquentava o peito”, mesmo… Bebia todas a que tiha direito, e, incapaz de sustentar-se sozinho, lá iam os Penetras deixar o pobre coitado em sua residência nas proximidades da Rua Dr. Coelho.

Lá chegando, batiam à porta. À espera por alguém da casa não demorava. Logo surgia a pobre mãe (ainda esfregando os olhos de sono e abrindo a boca) para receber o “bêbado”. Ao observar a presença dos Penetras com o filho, naquela hora e naquele estado de embriaguez, começa ela a esculhambar com todo mundo:

“Seus filhos da p…*! Embriagam meu filho e ainda vêm aqui a essas horas da madrugada, todos embriagados, com as caras mais lisas do mundo deixar ele. Pobre coitado… Meu filhinho… Tadinho, ele não merece isso, seus merdas! Desapareçam daqui!”

Era sempre assim, todas as vezes que o deixávamos nessas condições. Aí, cansados, arreatados, saturados disso tudo, principalmente das broncas, os Penetras resolveram mudar o curso da História.

Eis que numa bela madrugada, o ‘bichinho’ já nos braços dos Penetras, pronto para ser entregue mais uma vez. Chegam de mansinho e sem barulho, batem, enquanto colocam o “fardo”, ainda dormindo, no batente de entrada da casa, encostado na porta. Batem outra vez e todos correm até a esquina da rua à espera dos acontecimentos.

Nisso a pobre mãe (coitada, acordava todas as vezes…), ao abrir a porta, lá estava o filho caindo aos seus pés feito um saco de batatas. Arrasta-o pelos braços para dentro de casa e, em seguida, dava uma espiada para a rua na esperança de encontrar os Penetras. Só que não via ninguém para esculhambar.

Da esquina mesmo e sem levar a costumeira bronca, os Penetras riam da cara da mae do Penetra Giquirí.

DO LIVRO ‘OS PENETRAS’, DE JOSÉ MIGUEL LEITE JÚNIOR

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