Milagre de Primeiro Mundo

VALIOMAR ROLIM

Aquele turista de João Pessoa se apaixonara pelo povo de Cajazeiras. Viajava há alguns dias com a turma da cidade numa viagem para a Terra Santa, que incluía a Europa. Já conhecia a maioria pelo nome, daí a pouco seria convidado a conhecer a cidade. O pacote de turismo para a Terra Santa estava na primeira fase: a Europa, e a atração à parte era a numerosa turma de Cajazeiras.

Foram à Espanha, Portugal e agora estavam em Roma, a cidade eterna. Pacote turístico, nos mesmos hotéis, todos juntos, ouviam as coisas de todos. Não deu para não escutar quando alguém ligou para Cajazeiras, a perguntar pelas novidades. Quando um cajazeirense ligava para sua cidade, ouviu uma inditosa nova. Não conseguiu entender bem, só percebeu que alguém morrera e todos ficaram chocados, alguns até choraram copiosamente, como foi o caso de Waltemar, o cara mais animado da excursão ate então.

Foi uma mudança total de astral. A viagem, que até então era alegria só, transformou-se numa coisa solene, até sombria, não havia mais a euforia que caracterizava a turma de Cajazeiras.

Só compreendeu o que aconteceu quando o Padre Francivaldo, vice-prefeito de Cajazeiras à época e mentor religioso da viagem, rezou, em plena Basílica de São Pedro, uma missa em intenção à alma de um tal Valiomar.

Perguntou aos colegas de viagem e soube de tudo. Valiomar, que vinha a ser irmão de Waltemar, havia falecido em um acidente automobilístico em João Pessoa.

Aí se inteirou completamente da história. O falecido, irmão mais querido de seu companheiro de viagem, era mais um cara boa praça que ia antes do tempo.

Ficou observando. Com o passar dos dias, estranhou muito pela alegria de Waltemar. Até censurou a frieza do seu colega excursionista em relação à morte do irmão. Ele não sabia do desenrolar da história, a pessoa tão chorada não havia morrido, havia sido só um alarme falso.

Ao chegarem no aeroporto de João Pessoa, ao desembaraçarem as bagagens, teve um choque.

Waltemar, numa alegria indescritível, abraçava um cara gordinho, meio careca. Perguntou quem era a figura abraçada a outros cajazeirenses, soube que era o Valiomar.

Ensimesmou-se e pensou: “Eu sabia que missa de Roma é muito forte, mas ressuscitar…”.

VALIOMAR ROLIM, MÉDICO E ESCRITOR

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