Bento Soares: amante do rádio e do futebol

“Um verdadeiro amante do rádio e do futebol”. É assim que os familiares, amigos e colegas de trabalho do Banco do Brasil e das redações de jornais e rádios definem o cronista esportivo Bento Soares, considerado um dos maiores jornalistas esportivos da Paraíba. Segundo seu filho, Nelson Soares, seu pai, mesmo no período que era bancário, nunca deixou de ouvir pelo rádio as resenhas esportivas do futebol local e nacional. Além de acompanhar tudo sobre futebol pelas rádios, ele tinha todos os exemplares da Revista Placar, que havia ganhado do amigo e radialista esportivo Stefano Wanderley, da Rádio Tabajara.

Quando Bento Soares foi trabalhar na Rádio Tabajara, em 2008, acabou realizando seu grande sonho, que era ser cronista esportivo de uma das maiores rádios da Paraíba. Ele comemorou tanto sua nova profissão que, ao receber seu primeiro salário, um cheque nominal a ele, mandou plastificar como se fosse um grande troféu. Sua maior satisfação foi estar contribuindo de forma mais expressiva com o futebol paraibano. Ele trabalhou na Tabajara até o fim de sua vida, em 2011.

Natural do município de Brejo, no Maranhão, Bento Soares nasceu no dia 13 de novembro de 1947, mas com poucos meses de idade foi morar em Porteiras, no Ceará. Antes de fixar residência em João Pessoa, morou em Alhandra (PB), Vitória de Santo Antão (PE), e em outras quatro cidades paraibanas: Bananeiras, Araruna, Alagoa Grande e Cajazeiras. Nessa última, no Sertão da Paraíba, casou-se com dona Maria José. Ainda jovem começou a trabalhar no Banco do Brasil. Ele atuava na Superintendência Estadual do Banco do Brasil na Paraíba e seguiu na carreira de bancário até se aposentar.

Logo após se aposentar, fez o vestibular para o Curso de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e se formou em Jornalismo aos 56 anos. Desde então, não parou de trabalhar como cronista esportivo. Mas, ainda quando estudante, trabalhou na Rádio Iracema de Juazeiro, na Rádio Alto Piranhas em Cajazeiras, Rádio Oeste de Cajazeiras e na Rádio Sanhauá. Até ser convocado para trabalhar na Rádio Tabajara em João Pessoa. Nesse período, Bento Soares também escrevia semanalmente para a revista A Semana, na capital paraibana, dirigida pelo jornalista Neno Rabello.

Segundo seu companheiro de curso e amigo Stefano Wanderley, enquanto esteve na UFPB, todas os dias ele realizava no Departamento de Comunicação uma mesa redonda sobre futebol. “Ele era tão apaixonado por futebol que o apelido dele na UFPB era ‘Milton Neves’. Era um cara muito ético, fez muitas amizades no meio esportivo e gostava muito de aconselhar os novos repórteres e ajudar as pessoas”, revelou.

Morte – Bento Soares morreu na madrugada do dia 28 de novembro de 2011, deixando órfão os filhos Nelson, Tales e Natália, bem como todos aqueles que acompanham o futebol paraibano. Seus comentários eram precisos e revelavam a realidade do futebol paraibano. Seu sepultamento aconteceu no Cemitério Parque das Acácias, na capital.

Na época, os presidentes da Associação Paraibana de Imprensa (API) e da Associação dos Cronistas Esportivos da Paraíba (Acep) divulgaram uma nota conjunta de pesar pela morte de Bento. Em um trecho, a nota dizia: “Além de saudades, ele deixa exemplo de honestidade, coleguismo e, acima de tudo, lealdade”. A nota foi assinada pelos presidentes Marcela Sitônio (API) e João Camurça (Acep) e relatava que a crônica esportiva paraibana e todos aqueles “que respiram o futebol da Paraíba acordaram tristes com a morte do jornalista Bento Soares, um dos grandes nomes do jornalismo esportivo do estado”. Na noite anterior, Bento sentiu-se mal e foi socorrido ao Hospital da Unimed, em João Pessoa, onde mais tarde foi vítima de um infarto fulminante. A diretoria do Sindicato dos Bancários da Paraíba também emitiu nota de pesar.

Livro faz um “DNA” do futebol brasileiro

No ano de 2006, Bento Soares lançou o livro ‘Vendo o Jogo Pelo Rádio’, em homenagem aos jornalistas e radialistas de destaque da imprensa esportiva brasileira. A obra foi resultado de sua monografia na conclusão do Curso de Comunicação, no ano de 2003, e lhe rendeu uma entrevista no programa do jornalista e humorista Jô Soares. O jornalista e amigo de Bento, Edmilson Pereira, fez uma entrevista com ele após o lançamento de seu livro e falou sobre a satisfação do cronista ao lançar sua obra. Bento enfatizou que, depois de aposentado, teve o desejo de voltar à vida de estudante. “Prestei vestibular para a UFPB e, por ocasião da conclusão do curso, eu peguei como tema da monografia a história da crônica esportiva, juntando o futebol, uma paixão nacional, e uma das principais manias do brasileiro, o rádio. Então adicionei um outro elemento: o cronista esportivo”.

Na época, ele confidenciou que sempre demostrou e teve uma preocupação com o tratamento dispensado ao cronista esportivo, que em sua ótica era uma categoria pouco reconhecida pela sociedade. Sendo assim, buscou traçar a história da crônica esportiva, desde o ano de 1931, com Galhano Neto, da Rádio Educadora Paulista.

No livro, ele faz um “DNA” do futebol brasileiro desde 1894, quando Charles Miller, um estudante brasileiro que era radicado em Londres, voltou ao Brasil trazendo bolas de futebol, livros contendo regras do jogo e implantou esse esporte em nosso país. Ele também revela no livro que foi em 1922 que aconteceu a primeira transmissão radiofônica no Brasil, e que a primeira emissora a ser inaugurada no país foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, no ano de 1923, por Roquette Pinto.

Ele contou que agradeceu muito a sua esposa pela ajuda que ela deu durante sua pesquisa para lançar o livro. O agradecimento foi pela compreensão, porque esse trabalho lhe custou quatro anos de pesquisas, “sendo fundamental a compreensão dela pela ausência, pelas viagens, o uso constante do computador e muitas noites em claro”. Na oportunidade, ele também agradeceu aos amigos e orientadores da universidade que lhe incentivaram a transformar a monografia em livro.

O livro tem 473 páginas e 18 capítulos. Na obra, Bento conta a história da crônica esportiva de forma abrangente, com 538 perfis, minibiografias de profissionais da imprensa, segmentados pela função e qual a estrutura da transmissão esportiva composta pelos seguintes profissionais: apresentador, narrador, comentarista e repórter.

Ele dedicou um capítulo aos cronistas de jornalismo impresso. Um outro capítulo foi dedicado às frases hilariantes, pitorescas, assim como frases filosóficas de grandes nomes do futebol, como Nenê Prancha, considerado o maior “filósofo do futebol”. Na obra, também tem frases marcantes do escritor Nelson Rodrigues e de Armando Nogueira. Tem um capítulo destinado aos bordões de diversos profissionais de imprensa. Afinal, existe toda uma linguagem, slogans e apelidos aos profissionais do rádio.

Bento relatou que o livro era um tributo ao rádio e aos profissionais da imprensa esportiva. Revelou ainda que a sensação de escrever um livro é a realização de um homem. E que foi gratificante ter seu trabalho reconhecido pelos leitores. Bento se autodefinia como uma pessoa de fácil relacionamento e aberto às amizades. “O que mais me alegra é que eu até posso me comparar ao Roberto Carlos. Acho que também tenho um milhão de amigos”, disse ele no final da entrevista, destacando: “A narração de um jogo pelo rádio tem muito mais emoção do que pela tevê”.

COM INFORMAÇÕES DO JORNAL A UNIÃO

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