A saga de José Cavalcanti da Silva

JOSÉ CAVALCANTI DA SILVA
* São José de Piranhas (PB), 12/09/1929

Cajazeiras é minha terra. Aprendi, desde criança, a valorizar o meu torrão natal, pois foi lá que descobri a importância da agricultura, para o desenvolvimento das cidades, a importância das escolas na vida das pessoas, a importância do trabalho para a realização pessoal de cada indivíduo e a importância de se ter uma personalidade forte para, vencendo os obstáculos, enfrentar os desafios, podendo, assim, proporcionar à sociedade maiores e melhores condições econômico-sociais, para os que nela habitam.

Assim, sinto-me, plenamente realizado, em haver nascido no sertão de Cajazeiras e estar essa cidade sertaneja, encravada, no extremo oeste do Estado da Paraíba. Sinto-me, deveras, um privilegiado. Em primeiro lugar, por haver nascido na terra que ensinou a Paraíba a ler, mais precisamente, no Sítio Tabuleiro, de propriedade da minha família, onde recebi, dos meus pais, as orientações necessárias à vida da infância, e ao desenvolvimento da adolescência. Minha mãe, Maria Leite Cavalcanti, mais conhecida, afetivamente, por Mariquinha, era uma mulher virtuosa, fina, recatada, eficiente dona de casa, prudente, temente a Deus, porque convicta dos princípios evangélicos, que procurou incutir, desde cedo, na formação dos seus filhos, além de exercitar a caridade fraterna, para com os mais carentes, sedimentada nas orações, formuladas diariamente.

Meu pai, Manoel Cavalcanti, sertanejo de caráter forte, respeitador, homem de lisura, não admitia deslealdade, mentira, nem trapaças. Não conversava por arrodeios. Ia direto ao assunto.  No Sítio Tabuleiro, quando menino, tirei leite de vaca, tangi gado, montei em cavalos, tomei banho de açude e diverti-me nas moagens do engenho. Foi uma infância intensa, permeada de trabalhos e brincadeiras. Fiz as primeiras letras no Sítio, na escola particular do severo e dedicado Professor Paulo Martins. Aos 16 anos, já estava matriculado no Colégio Salesiano Padre Rolim, famosa instituição de ensino que educou o Padre Cícero, do Juazeiro, dentre tantas outras personalidades cujas referências muito dignificam aquela tradicional casa de formação.

A paixão pelos carros viria um pouco depois, quando, concluído o curso ginasial, ainda adolescente, pedi a meus pais para interromper os estudos, a fim de me dedicar, exclusivamente, ao trabalho, visto não haver, naquela época, como conciliar estudo e comércio. Além disso, acreditava ter mais futuro trabalhar do que estudar. Consegui com meu pai ser proprietário de uma mercearia e, pouco depois, já me encontrava na direção de um jipe, comprado fiado à empresa J. Macedo, em Fortaleza – Ceará. Naquela época, era um dos únicos transportes auto-motores, capazes de romper as precárias estradas nordestinas.  Os negócios foram prosperando, permitindo-me comprar e vender jipes, veículos utilitários mais procurados da época. Comprava-os e vendia-os em Cajazeiras, Sousa, São José de Piranhas e outras cidades da região.

Algum tempo depois, associei-me ao meu primo Deusimar Cavalcanti, no comércio de automóveis. Comprávamos carros novos em Fortaleza e os vendíamos em Salvador, Jequié e Vitória da Conquista. Lá comprávamos automóveis usados e os vendíamos em Fortaleza.  Dos carros de passeio e veículos utilitários, passei, juntamente com Deusimar, a vender caminhões e caminhonetas, adquiridos no Rio de Janeiro e São Paulo. Inúmeras vezes, essas transações eram efetuadas, apenas, por procurações, tamanho era o nosso crédito, junto aos empresários dessas metrópoles brasileiras.

Em 1958, conseguimos, Deusimar e eu, a representação oficial da Willys Overland, passando a ser o primeiro concessionário dessa marca, na cidade de Cajazeiras. Estava criada a Firma Cavalcanti & Primo.  Em 1968, a Ford adquiriu o controle acionário da Willys e a empresa Cavalcanti & Primo transformou-se em concessionária da Ford.

A sociedade com o primo Deusimar prosseguiu até 1982, quando, após acordo mutuamente conversado e negociado, ficou decidido que eu assumiria o controle total da empresa, naquela altura, uma das mais prósperas da Paraíba, figurando entre as 100 maiores, no recolhimento de ICMS para o Estado. Naquele ano, consegui expandir as atividades da empresa, obtendo a concessão da Honda para a venda de motos, em Cajazeiras, atualmente com outra concessionária, na cidade de Itaporanga.

Em 1994, a Firma chegou, finalmente a João Pessoa, transformando-se no Grupo Cavalcanti Primo Veículos Ltda, ao adquirir o controle da J. Pinto Veículos, à época, única concessionária Ford da Capital paraibana.  Ainda na década de 90, passando ao largo das crises econômicas, dos pacotes anti-inflacionários e da instabilidade política do país, a empresa continuou crescendo com participação expressiva, no mercado de automóveis e caminhões. Até que, em 1999, o Grupo Cavalcanti Primo efetuou a compra da Crasa, importante revenda Ford, pertencente ao Grupo C. Rolim, cujo fundador, meu grande amigo e conterrâneo, Clóvis Rolim, empresário de grande destaque, no comércio cearense, perpetua-se na continuidade dos empreendimentos dirigidos pela dinâmica e competente Dona Edir e seus honrados filhos.

Atualmente, o Grupo Cavalcanti Primo possui um grande número de funcionários, distribuídos nas duas concessionárias de João Pessoa, nas revendas de Sousa e Cajazeiras e nas duas concessionárias de motos Honda, em Cajazeiras e em Itaporanga.

Não perdi as raízes fincadas no meio rural. Criador de gado nelore e cavalos de raça, envaidecia-me ter no meu plantel o Boi Moreira, Grande Campeão Nacional da raça Indu Brasil, no ano de 1975, em Uberaba – Minas Gerais, e admirado nas diversas exposições agropecuárias, realizadas em várias Capitais brasileiras, chegando a ser contratado, pelo período de oito anos, pela Pecplan, Central de Inseminação do Bradesco, interessada em comercializar o sêmen desse valoroso reprodutor.

A vida no campo é o meu maior lazer. A melhor forma de combater o estresse. Gosto de andar a cavalo, horas a fio, olhando o meu rebanho, admirando a natureza, respirando o ar puro, sentindo, no inverno, o cheiro aprazível da terra molhada dos campos verdejantes, rejuvenescendo a mente, fortalecendo o espírito.

Casei-me aos 36 anos e sou muito feliz com minha esposa, Ildinete e com meus filhos que, hoje, assumem, com empenho e competência os negócios do Grupo.  Sinto-me privilegiado, sobretudo, nesta noite, quando a Câmara Municipal me outorga o Título de Cidadão Pessoense. Honra-me o certificado de ser filho desta terra. Passarei a admirá-la sempre mais. Aumenta-me, igualmente, a responsabilidade de ser, oficialmente, cidadão desta cidade. Farei o possível para zelar pela integridade da coisa pública e fazer cumprir os princípios de justiça e igualdade social, indispensáveis ao desenvolvimento, ao bem-estar e a paz da coletividade.

Privilegiado sinto-me, ainda mais, ao receber, também, nesta noite, a Medalha e Diploma Epitácio Pessoa, a mais alta honraria da Assembléia Legislativa do meu Estado, conferida a um simples cidadão sertanejo. Enaltece-me tamanha condecoração. Homem de negócios, acostumado à lida rotineira e informal do comércio, fico surpreso e admirado diante de tão alta homenagem. Porém, a grandiosidade do prêmio me faz refletir, na dimensão do caminho que tive de percorrer, ao longo de quase cinqüenta anos de trabalho, para tornar-me merecedor de tão valoroso troféu. Minha trajetória de comerciante, agropecuarista e empresário, garante-me: não sou o único beneficiado do meu trabalho; minha família, também, não é a única beneficiada dos meus empreendimentos. Esta Medalha ostenta. Este Diploma atesta: o Grupo Cavalcanti Primo, com os seus trabalhos e empreendimentos, vem prestando um grande serviço à Paraíba; vem contribuindo para o desenvolvimento deste Estado.

Isto me conforta. Isto me faz feliz. Esta Medalha não é somente minha. É, também, sua Ildinete, minha esposa. É, também, sua, meus filhos, pois com vocês foram e continuam sendo partilhadas as dificuldades, as barreiras interpostas, as alegrias vividas, os sucessos alcançados, as vitórias conseguidas. É, igualmente, de vocês, dedicados funcionários, que integram o Grupo Cavalcanti Primo, a homenagem ora recebida. O trabalho, quando realizado, racionalmente e por ideal, dignifica o homem e transforma a sociedade.

Sou profundamente agradecido à Câmara Municipal de João Pessoa, por me haver tornado cidadão desta decantada cidade, Capital da Paraíba. De modo especial, expresso os meus sinceros agradecimentos ao Nobre Vereador, Excelentíssimo Senhor Presidente, Fernando Paulo Pessoa Milanez, por haver sido autor da propositura que me confere tão honroso título e, também, pelas suas generosas palavras, proferidas por ocasião de sua saudação.  Agradecimentos extensivos, de forma particular, aos Senhores Vereadores, presentes à reunião em que foi sugerido o projeto da propositura, e que, por unanimidade, a homologaram.

Agradecido sou, igualmente, à Assembléia Legislativa do Estado, na pessoa do seu Presidente, Deputado Rômulo José de Gouveia e, de forma especial, ao Senhor Deputado, Dr. José Aldemir Meireles, autor da propositura que me conferiu a Medalha e Diploma Epitácio Pessoa, e, também, pela sua benevolente e cordial saudação a mim dirigida.  Estendo esses agradecimentos aos Senhores Deputados Estaduais que homologaram por unanimidade a indicação do meu nome para receber tão insigne comenda.

Nesta oportunidade, expresso, também, os meus agradecimentos mais sensíveis às autoridades dos poderes executivo, legislativo e judiciário, aos companheiros rotarianos, aos colegas empresários, agropecuaristas, comerciantes, aos amigos médicos, advogados, professores, promotores da rádio-difusão, jornalistas, funcionários, familiares e, particularmente, aos conterrâneos e integrantes dos mais diversos segmentos da sociedade paraibana que aqui compareceram para, solidários comigo, dividirem as alegrias, as emoções e os sentimentos que invadem o meu ser, nesta noite de confraternização e júbilo.

Terminando, agradeço a Deus e a todos que acreditam no meu trabalho. Muito obrigado.

DISCURSO PRONUNCIADO PELO EMPRESÁRIO JOSÉ CAVALCANTI DA SILVA, POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO DO TÍTULO DE CIDADÃO PESSOENSE, OUTORGADO PELA CÂMARA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA – PB., E DA MEDALHA E DIPLOMA EPITÁCIO PESSOA, CONFERIDO PELA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DA PARAÍBA, NA CAPITAL PARAIBANA, AOS 14 DE MAIO DE 2004.

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