[2004] Bomba do Apolo XI – Depois de 29 anos, inocente relata drama vivido nas mãos da PF

A bomba-relógio que explodiu no Cine Teatro Apolo XI de Cajazeiras, na noite de 02 de junho de 1975, matando duas pessoas e ferindo outras duas, continua marcada na memória de muitos cajazeirenses. Foi uma noite de terror na terra do Padre Rolim com repercussões na Paraíba e no Brasil.

Passados 29 anos de mistério sobre o atentado, o Gazeta conseguiu um depoimento dramático de um cidadão que sofreu muito nas mãos da Polícia Federal. Na época, ele foi preso e torturado como suspeito de ter colocado a bomba no cinema. É José Leal Filho, 50 anos, natural de Itapipoca, Ceará.

De passagem por Cajazeiras, no último dia 04 deste mês, ele relatou todo o drama vivido, nas mãos da Polícia Federal. Disse que em 75, tinha um contrato com a Revenda Ford, em Juazeiro do Norte. Naquele ano, recebeu um convite de um dos diretores da Ford local para participar de um evento de casamento, em Cajazeiras. Não sabia, no entanto, que na véspera de sua chegada, havia ocorrido um atentado a bomba, no cinema.

“Chegando em Cajazeiras, fomos ao casamento. Em seguida, saímos para tomar cerveja em alguns bares da cidade. Na ocasião, eu já estava sendo acompanhado de perto por agentes da Polícia Federal, que se diziam representantes comerciais da Antarctica”, contou José Leal, adiantando que foi preso quando retornava para o hotel juntamente com o colega Nathanael.

“Fui levado para o presídio de Cajazeiras, onde permaneci durante 09 dias, sendo interrogado por grupos da Polícia Militar e da Polícia Federal. Nesse período, meu pai deslocou-se de Fortaleza para Cajazeiras, trazendo uma carta do arcebispo Dom Aloísio Lorscheider e do então governador Virgílio Távora, contando a minha história e de minha família”, disse José Leal, acrescentando que a PF não reconheceu nada da carta.

Contou que, depois desse tempo preso em Cajazeiras, foi recambiado para João Pessoa. Lá, segundo afirmou, a coisa engrossou um pouco. “Enquanto estava em Cajazeiras, os interrogatórios eram comuns e as ameaças não passavam disso. Em João Pessoa, foi realmente uma tortura. Foram 48 horas em que fiquei acordado, sendo levado para uma sala de interrogatório, duas ou três vezes, a cada hora. Lá, eu ficava algemado em posição desconfortável e era agredido com telefones e pancadas que atingiam os pulmões”, declarou.

De acordo com José Leal, esse segundo interrogatório também não chegou a lugar nenhum. “O pior era que eu tinha que lembrar com quem estive, há um ano, há dois anos, que eram datas específicas de atentados a bomba. Tive que relembrar com quem estive e com quem falei, nos últimos dois anos, em datas específicas, quando já tinha ficado claro, no início do interrogatório, em Cajazeiras, que eu não tinha nada a ver com a bomba”, lamentou, afirmando que teve como provar tranqüilamente sua inocência, porque estava trabalhando em Juazeiro do Norte. “Na época, fazia um trabalho de rua e tinha várias testemunhas como estava dentro de Juazeiro do Norte, mas eles ficavam insistindo em datas anteriores, ou seja, datas de outros atentados”, afirmou.

Finalizando, José Leal Filho disse que foi vítima de um interrogatório sem nenhum fundamento. “Não assinei nada. A Polícia Federal me dispensou após o décimo primeiro dia, sem nenhuma satisfação. Não fiz nem sequer um exame de corpo de delito”, completou. 

Mistério

Há quase três décadas, o caso da bomba do Apolo XI continua sendo um grande mistério. Em 1987, 12 anos, portanto, depois do ocorrido, o saudoso bispo Dom Zacarias Rolim de Moura, deu uma entrevista a um veículo de comunicação de Cajazeiras, oportunidade em que falou sobre o assunto. Disse que não sabia nada sobre as investigações feitas pela Polícia Federal.

“Até hoje permanece o mistério. A Polícia Federal, se descobriu as origens da bomba, naturalmente guardou sigilo. Mas apareceu aqui um cidadão, o cidadão que colocou aquela bomba. Ouvi dizer que ele pertencia a uma gang de terroristas de São Paulo e veio para cá, naturalmente, trabalhar. Mas é uma coisa que ninguém sabe ao certo. Há uma palavra misteriosa. Quando morreu a primeira vítima, no hospital, em João Pessoa, viu-se um desconhecido utilizar o telefone do hospital. Para quem ele estava telefonando, não se sabe. Quando saiu o primeiro cadáver, ele disse ao telefone que estava feliz porque tinha morrido um”, revelou D. Zacarias, afirmando que esse comentário do desconhecido, deu margem a muitas interpretações.

Uma delas, segundo o bispo, é que, se não tivesse morrido, a vítima poderia contribuir muito para a identificação da pessoa que levou a bolsa em que estava a bomba e entregou-a ao soldado Didi, que era porteiro do cinema e que também morreu.

GAZETA DO ALTO PIRANHAS – ED. 274 (12 A 18 DE MARÇO DE 2004)

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