[2003] Desastre da Serra de Horebe comove o Sertão Paraibano

O Sertão Paraibano amanheceu triste, no último domingo, 15 de junho. Um grave acidente automobilístico deixou a população sertaneja abalada, diminuindo assim, o entusiasmo dos sertanejos para as festividades juninas que tradicionalmente acontecem em vários municípios da região.

Na PB 400, que liga São José de Piranhas a Bonito de Santa Fé, mais precisamente no Sítio Serrote, em frente a Fazenda “Pai e Filho”, pertencente ao Senhor Severino Manuel, aconteceu o pior: um violento choque entre dois veículos Fiat provocou a morte de três pessoas e ferimentos em mais três. No local, ainda município piranhense e a 10 km apenas de Monte Horebe, morreu o vice-prefeito de Cachoeira dos Índios, Francisco de Souza Leite, o conhecido Chico de Lino, 39 anos, casado e pai de três filhos. As duas outras vítimas fatais: João Nilo Pereira Ramalho, 23 anos, solteiro, estudante, e Francisco Pereira de Souza, popularmente conhecido por Naldo de Lino, 52 anos, casado, pai de dois filhos, morreram no Hospital Regional de Cajazeiras.

Dos três sobreviventes, apenas Thiago Magno Leite Crispim, 21 anos, solteiro, residente em Cajazeiras, teve complicações mais graves e foi transferido do Hospital Regional de Cajazeiras para Fortaleza. Ele teve fraturas no fêmur e no braço esquerdo, além de outras escoriações mais leves. Seus pais residem em Lavras da Mangabeira, no Ceará, e ele estuda em Cajazeiras. Os outros dois sobreviventes: Cézar Batista Cândido, 29 anos, solteiro, residente em Cachoeira dos Índios, e Paula Railene Nascimento Lins, 19 anos, solteira, filha do casal John Kennedy Vieira Lins e Edilândia Maria do Nascimento Lins, residente em São José de Piranhas, foram os menos atingidos. Cézar com pequenas escoriações, e Paula Railene com um corte na língua.

O choque entre os dois veículos, segundo testemunhas, se deu no momento em que o Fiat dirigido pelo jovem João Nilo Pereira Ramalho, que vinha de Monte Horebe com destino a Cajazeiras, saiu de sua direção na pista, indo de encontro ao Fiat dirigido por Chico de Lino, que saiu de Cachoeira dos Índios com destino a Monte Horebe. Há comentários, inclusive, de que um dos companheiros de viagem de Chico de Lino teria chamado a atenção dele sobre o carro que vinha na contramão. Chico teria respondido que nada poderia fazer. Um carro de Cajazeiras que também se deslocava para Monte Horebe, um pouco atrás do veículo de Chico de Lino, ainda foi atingido pela colisão. Segundo os seus ocupantes, o impacto da batida foi tão violento, que provocou essa segunda colisão, embora sem maiores consequências. “Tudo foi muito rápido. Se o nosso carro tivesse desenvolvendo uma velocidade maior, o desastre teria atingido outras pessoas que estavam nesse terceiro veículo”, disse uma testemunha.

Uma das pessoas que socorreram as vítimas no local do acidente, Leonardo Alexandre, disse ao Gazera que o jovem João Nilo Ramalho ficou preso nas ferragens do carro e foi retirado com muito sacrifício. “Foi difícil arrancá-lo de dentro das ferragens. Tive muito trabalho juntamente com Jacinto Fábio nessa operação”, contou.

Os dois veículos ficaram praticamente destruídos e foram trazidos para a sede do VI Batalhão de Polícia Militar, sediado em Cajazeiras. No Fiat que vinha com destino a Cajazeiras, além do seu proprietário, João Nilo Ramalho, vinham a jovem Paula Railene Nascimento Lins e Thiago Magno Leite Crispim. No carro de Chico de Lino, também estavam mais duas pessoas: Cézar Batista Cândido e Francisco Pereira de Souza, o Naldo de Lino.

O quadro das três vítimas fatais não tinha solução, segundo a equipe médica que plantão no Hospital Regional de Cajazeiras. O vice-prefeito Chico de Lino teve morte imediata. Já chegou no HRC sem vida. O jovem João Nilo Ramalho, filho do médico Aldenilo Ramalho, deu entrada no hospital local vivo, com uma forte pancada na cabeça, um dos braços praticamente amputado e já tinha perdido quase todo o sangue. Infelizmente, o seu pai e toda a equipe médica não puderam fazer mais nada. Não resistiu e morreu logo. A terceira vítima, Francisco Pereira de Souza, Naldo de Lino, chegou ao HRC também com vida. Ele apresentava fratura no crânio e uma grande pancada na região abdominal. Morreu quando recebia os primeiros socorros na mesa de cirurgia. Seu estado se agravou devido a uma hemorragia interna.

Naldo de Lino, segundo o Gazeta apurou, vinha no banco traseiro sem cinto de segurança. As primeiras avaliações sobre o acidente, são de que ele só sofreu muitas pancadas porque estava sem o cinto, o que lhe foi fatal. O outro companheiro de viagem do mesmo carro, Cézar Batista Cândido, afirmou, momentos depois, que só escapou graças ao cinto de segurança.

Repercussão

Em Cajazeiras e em todo o Sertão Paraibano, o acidente causou enorme repercussão, por ter envolvido pessoas queridas da sociedade. As manifestações de pesar e solidariedade chegaram de todos os segmentos sociais da região. O casal Aldenilo Ramalho e Nelbe ficou chocado com a morte do filho João Nilo. O jovem de 23 anos estava com viagem definida para a Bolívia, onde faria o curso de Medicina, seguindo a carreira profissional do pai.

João Nilo Ramalho foi velado durante todo o domingo, 15, na Central de Velórios Memorial Esperança, de Cajazeiras, sendo sepultado na manhã de segunda-feira, 16, depois de uma missa de corpo presente, na Catedral de  Nossa Senhora da Piedade. Um grande número de familiares e amigos do médico Aldenilo Ramalho acompanharam o enterro pelas ruas de Cajazeiras.

Já o corpo do vice-prefeito de Cachoeira dos Índios, Chico de Lino, foi velado durante pouco mais de uma hora, na Central Memorial Esperança, atraindo muitos familiares, amigos de toda a região e curiosos. Depois, aconteceu o translado para Cachoeira dos Índios. Em sua residência, o corpo foi velado até a manhã de segunda-feira, 16, sendo sepultado por volta das 10 horas, com grande acompanhamento e muita comoção.

O adeus a Chico de Lino

A cidade de Cachoeira dos Índios, a 20 km de Cajazeiras, parou para prestar a última homenagem ao seu filho ilustre. Políticos de todo o Estado, com destaque para o senador Efraim Morais, mais de uma dezena de prefeitos sertanejos, vice-prefeitos, vereradores e milhares de pessoas do povo acompanharam o seu sepultamento. Todos lamentavam e choraravam a perda do político cachoeirense, cuja prática era bastante identificada com as camadas mais pobres da população.

O prefeito José de Souza Bandeira ficou transtornado com a morte do seu companheiro de lutas políticas e de administração. Ele decretou luto oficial no município, por três dias, e  suspendeu toda a programação das festividades de São João e São Pedro em sinal de pesar. “Era meu braço direito na administração municipal. Apesar da pouca idade, me espelhava nele”, lamentou o chefe do executivo cachoeirense.

Outro grande amigo de Chico de Lino, o senador Efraim Morais(PFL), chegou a chorar no momento do sepultamento. “Perdi um irmão. Ele era um pai exemplar, um homem público extraordinário, que trabalhava incansavelmente em defesa do povo de Cachoeira dos Índios”, lamentou o senador, afirmando que, a partir daquele momento, aumentava a responsabilidade de todos os políticos que têm ligações com o município para suprir a falta do vice-prefeito falecido.

O deputado Estadual José Aldemir Meireles(sem partido), que mantinha boas amizades com o Chico de Lino, solidarizou-se com os familiares de todas as vítimas do acidente. Para ele, a morte do vice-prefeito significou uma perda irreparável para a população de Cachoeira Índios e de toda a região. O parlamentar também acompanhou o sepultamento.

O ex-prefeito de Cajazeiras e ex-deputado estadual, Epitácio Leite Rolim, era um dos mais abatidos com a morte do sobrinho. “Foi uma perda irreparável para a política de Cachoeira dos Índios e do Sertão da Paraíba. Estamos todos tristes e sofrendo com a morte de Chico de Lino”, afirmou.

Já o professor José Antonio de Albuquerque, titular do Sistema Alto Piranhas de Comunicação, comentou a morte do vice-prefeito. Segundo ele, Chico de Lino, além de um político de projeção com grande conceito em toda a região, era um técnico competente no assessoramento a várias prefeituras sertanejas. “O seu trabalho em processos licitatórios era elogiado, inclusive, por técnicos do Tribunal de Contas do Estado”, revelou José Antonio, adiantando que Chico vai fazer muita falta às administrações municipais.

A trajetória de Chico de Lino

Com 39 anos de idade, Francisco de Souza Leite, Chico de Lino, já tinha assumido todos os cargos públicos em Cachoeira dos Índios. Ele iniciou sua participação na vida pública, em 1983, assumindo o cargo de Secretário-Geral da administração do prefeito da época, Fernando Leite. Depois foi vereador durante dois mandatos, chegando a assumir a presidência da Câmara Municipal daquela cidade. Chegou a ser também, o vereador mais bem votado do município. Foi prefeito e, atualmente, exercia o cargo de vice-prefeito do médico Souza Bandeira. O seu nome já estava sendo apontado para concorrer novamente à sucessão municipal, em 2004.

Em Cajazeiras, Chico de Lino também assumiu uma função pública. Foi secretário de Administração do ex-prefeito Epitácio Leite Rolim, no período de 1997 a 2000. Chegou a ter seu nome cotado para concorrer à Prefeitura de Cajazeiras, substituindo Epitácio Rolim. Em Cajazeiras, também presidiu a AMAP-Associação dos Municípios do Alto Piranhas, quando exercia o cargo de prefeito de Cachoeira dos Índios.

Técnico Agrícola e homem dedicado à atividade político-administrativa, Chico de Lino, nasceu em 19 de novembro de 1963. Era filho do saudoso Lino de Souza Sobrinho e de Alzira Leite de Sousa. Tinha 03 irmãos: Paulo, Antonio e Maria Ciete. Era o filho mais novo da família. Casado com Luciene Ricarte feitosa Leite, tinha 03 filhos: Ramon, de 13 anos, Lino Neto, 08 e Gabriela, de apenas 03 anos.

GAZETA DO ALTO PIRANHAS – ED. 236 (20 A 26/06/2003)

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