[2002] População denuncia politicagem no Hospital Regional de Cajazeiras

Parece que o martírio vivido pelo povo que precisa de atendimento no Hospital Regional de Cajazeiras, vai continuar.  As velhas práticas e costumes políticos no atendimento daquela casa de saúde, que um dia já foi hospital referência no interior, segundo denúncias de populares e de uma funcionária do HRC, persistem. Mesmo depois da nomeação da economista e pedagoga Luciene Maria Leite de Lira para a direção geral, por indicação do vice-prefeito e candidato a deputado estadual padre Francivaldo Nascimento Albuquerque (PSL).

As denúncias surgiram na última quarta-feira, quando um repórter da Rádio Alto Piranhas foi ao HRC para ouvir a citada diretora sobre o andamento dos trabalhos naquela repartição pública estadual. Como a diretora não se encontrava, o repórter começou a ouvir pessoas numa fila à espera de atendimento, para saber como estavam sendo tratadas, e se a prestação de serviços do hospital havia melhorado. Quase que unanimemente só houve reclamação. Uns diziam abertamente que estava havendo favorecimento político “dos que são do esquema da atual administração”, enquanto outros apenas reclamavam que chegavam muito cedo na fila mas eram preteridos por outros que passavam na frente ou eram atendidos diretamente em algumas janelas daquela casa de saúde.

A dona Cícera, ouvida pelo citado repórter, disse que “o atendimento aqui está muito ruim porque desde manhazinha que estou aqui e ainda não fui atendida;  cheguei às 6 horas e ainda não consegui marcar o exame”, afirmou.

O vereador Wanderley (PMDB), de Cachoeira dos Índios, que acompanhava algumas pessoas para serem atendidas no HRC, também falou sobre o atendimento lá prestado. Disse ele: “o atendimento está deixando a desejar, e muito; eu acabei de ver uma senhora grávida aqui na fila desde manhã sem ser atendida até agora, enquanto outras pessoas que chegaram bem depois já foram atendidas. Isso, sem contar que pessoas que chegam de repente, vão por uma janela lateral, entregam papéis a uma moça que tem ali dentro, faz a ficha e é atendido. Então, está havendo sim privilégios. Aqui funciona na base do conhecimento; quem tem conhecimento com o pessoal vai ali por trás e é atendido, agora quem não tem conhecimento tem que ficar na fila esperando”, relatou.

Outro que também denunciou favorecimento no atendimento do HRC foi o vereador Muniz, de São João do Rio do Peixe, que também acompanhava pessoas doentes para serem atendidas. Segundo ele, “o que está existindo aqui é um verdadeiro favorecimento para as pessoas ligadas a essa administração; até porque pessoas marcadas para serem atendidas hoje, como eu trouxe para aqui, para ultrasom abdominal, foram remarcadas para o dia 10 do próximo mes, e as pessoas que são ligadas a essa administração atual estão sendo privilegiadas; com certeza está havendo politicagem nessa administração atual”, afirmou.

Um outro popular do bairro Vila Nova, deu um depoimento ainda mais comprometedor: “a gente ainda não foi atendido; está com oito dias que eu venho marcar um exame de ultrasom e não consigo devido a desorganização, porque fica um amontoado de pessoas, pessoas que chegam depois tomam a frente, mulheres grávidas ficam esperando, a gente já havia marcado o ultrasom com dona Rosinha, só que agora tem que remarcar, ninguém sabe nem para quando, até porque ficam favorecendo a A e a B, enquanto deixam os outros de lado, coisa que não deveria haver, porque o hospital é público e é para todo mundo, independente de política; está havendo privilégios para alguns enquanto outros ficam para quando eles quiserem; a gente pensou que ia organizar, mas está totalmente desorganizado”, protestou.

Funcionária e Diretor Clínico confirmam favorecimento político

As denúncias de populares de favorecimento e politicagem no atendimento do HRC foram confirmadas por dona Rosinha, há 15 anos funcionária do hospital, e esposa do atual diretor clínico, Evilásio Formiga de Lucena.

Segundo dona Rosinha, a primeira conversa que a nova diretora teve foi com ela, comunicando-lhe que dali por diante a marcação de exames e atendimentos não ficaria mais sob sua coordenação, uma vez que esse serviço seria informatizado. Dois dias depois da comunicação, disse a funcionária, “fui surpreendida com pessoas que não são funcionárias do hospital fazendo a marcação desses exames.”

Para dona Rosinha, isso caracteriza política no hospital. “Estão fazendo política para padre Francivaldo, que foi quem indicou a nova diretora”, disse ela, tendo o cuidado de arrematar que esse favorecimento, inclusive, não deve ser do conhecimento nem da orientação do vice-prefeito candidato.

A mesma posição foi apresentada em entrevista ao repórter Ivanildo Dunda pelo Diretor Clínico do HRC, médico Evilásio Formiga de Lucena, também recentemente nomeado pelo governador Roberto Paulino, por indicação do ex-prefeito e também candidato a deputado estadual José Nello Zerinho Rodrigues (PSD). Segundo Evilásio, está sim havendo favorecimento político nos trabalhos do hospital, em detrimento da grande massa de doentes que procuram aquela casa de saúde.

Para o Diretor Clínico, o problema maior do HRC é puramente administrativo. Responsável pela parte operacional médica do hospital, dr. Evilásio entende que a política que está sendo feita pela nova administração geral é prejudicial ao andamento dos trabalhos médicos.

Voluntários – Chamou a atenção também do citado repórter da Rádio Alto Piranhas, o fato de, agora, nessa nova administração, existir no HRC a figura do voluntário. São três pessoas que, ‘espontaneamente’, sem custos para o Estado, prestam serviços àquela casa de saúde, ligados diretamente a direção geral.  Pelo que se conseguiu apurar, dois desses ‘voluntários’ atendem pelos nomes de Gleissom e Eugênia. Esta última, aliás, ao rebater as acusações de favorecimento no atendimento do hospital, chegou a afirmar que havia sido nomeada pela diretora geral e que, na sua ausência, a estava substituindo.

Ficam as indagações: pode existir essa figura do voluntário em serviço público? Voluntário pode substituir diretor geral de hospital? Qual a força jurídica, legal, de um voluntário numa repartição pública?

GAZETA DO ALTO PIRANHAS – ANO 4 – ED. 198 (27/09 A 03/10/2002)

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