As múltiplas faces de um band leader

Já que vamos falar de um ícone da música instrumental, necessário se faz definir o que seja easy listening. Exatamente porque, como a chamamos, a música dançante, música ambiental ou, mais precisamente, a música de fácil assimilação, já teve ou continua tendo um espaço bem representativo no nosso universo musical.

O mercado musical internacional nos tem brindado com ótimos band leaders que vão ficando na nossa memória remissiva. Quem se não há de lembrar de Ray Conniff e Billy Vaughn (estadunidenses),  Paul Mauriat (francês), Bert Kaempfert e James Last (alemães), Percy Faith (canadense) e dos recentes André Rieu (neerlandês) e Yanny (grego)?

O curioso é que, em quase sua totalidade, os futuros maestros obtiveram a iniciação musical logo cedo, conquistando, já na mocidade, seus espaços em bandas representativas em suas respectivas nacionalidades, vindo a tornarem-se reconhecidos no universo musical. Foi, por exemplo, o caso do nosso “quase conterrâneo” Severino Araújo, pernambucano de Limoeiro–PE, mas que “floresceu” para o mundo musical em nosso Estado, onde, após integrar a Banda de Música Militar da Paraíba como clarinetista, assumiu, em 1938, a maestria da festejada Orquestra Tabajara, que tanto sucesso fez aqui e alhures. Também, pudera! O seu pai José Severino Araújo, conhecido pela alcunha carinhosa de Mestre Cazuzinha, já fora regente da Banda de Música de Chã de Rocha, lá pras bandas de Natuba, interior paraibano.

Fica o nosso compromisso de, em futuro próximo, relatar para os leitores da Coluna a trajetória de cada um dos maestros citados acima, no entanto ocupamo-nos hoje de um que embalou os nossos sonhos adolescentes e – quem sabe? – também os de alguns adultos. Falamos de Joseph Raymond “RayConniff, maestro norte-americano (Attleboro/Massachusetts, 1916 – Escondido, Condado de San Diego/Califórnia, 2002). É festejado e admirado como o “rei do easy listening” de que lhes falei antes. Seu pai era trombonista, e sua mãe, pianista exímia, detalhes que, evidentemente, o levaram a caminhar os caminhos da música. Assim é que, ainda jovem, criou a sua própria banda, depois de participações rápidas pela orquestra de Artie Shaw, clarinetista e maestro de sua própria banda e famoso pela popularização do clássico de Cole Porter Begin the Beguine, e pela orquestra do maestro e trompetista Harry Jerome, que já havia integrado a banda de Benny Goodman. Harry criou a sua banda em 1939 e foi responsável pelo “lançamento” de Frank Sinatra, como cantor, quanto este estava com 23 anos, e anda “acompanhou” nossa Carmem Miranda no filme Two Girls and a Sailor (1943). Seguindo a corrente, Harry Jerome já vinha da banda de Count Basie. Mas, aí, já serão outras estórias…

Voltando a Ray Conniff. Antes que me esqueça, RC já havia preparado arranjos musicais para intérpretes famosos, como Johnny Ray, Guy Mitchel e Johnny Mathis.

Quando lhes falei em múltiplas faces, creio haver ficado claro que lhes falava de Ray Conniff. É que, apesar do seu som característico, em que incorporava, desde o seu primeiro álbum `S Wonderful, vozes masculinas aos trombones, saxofones baixos e trompas, e vozes femininas aos saxofones altos, pistons e clarinetes, formando um uníssono musical embalado pelas onomatopeias dos da-da-das aos du-du-duns, esse particular é que se tornou característica do seu easy listening, quase formando escola para as demais orquestras do gênero.

A orquestra de RC, então, mergulhou profundamente no gosto popular, a partir dos seus álbuns em que se assina Ray Conniff and his Orchestra, a chamada fase do `S`S Wonderful, `S Marvelous, `S Awful Nice, `S Continental, `S Christmas e até um `S Country, e o nosso `S Music (que, originariamente, recebeu o nome de Say It With Music e que nos legou a ainda hoje inimitável Besame Mucho), mas já com a titulação de Ray Conniff His Orchestra and Chorus; em seguida, vem a fase do The Ray Conniff Singers, em que, ao lado do vocalise, a banda adota o uso de cantar as versões originais (com letras completas); nessa variação de estilo, mas sem perder a sua característica básica e não em ordem cronológica, aparecem os dois álbuns em que o maestro cede o “trono” para o seu trompetista Billly Butterfield; por fim, não há como negar a influência do band leader americano, quando se insere no mundo da música clássica, com os seus dois Concert in Rhythm, modelo assimilado pelos já citados James Last, Paul Mauriat e, mais recentemente, por André Rieu e Yanny.

Uma curiosidade para quem gosta do estilo Ray Conniff e assistiu a algum espetáculo de sua banda: em suas várias turnês pelo Brasil, o maestro dava-se o luxo de prestigiar a “prata de casa”, devidamente ensaiando e incorporando à sua banda instrumentistas e vocalistas nacionais.


Na visão do Colunista, o álbum que mais marcou o estilo RC.

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