Sávio Rolim

Em 2017, estamos há 52 anos das filmagens do antológico filme de Walter Lima Júnior Menino de Engenho, rodado na Paraíba, baseado na obra homônima do escritor paraibano José Lins do Rego e com roteiro/texto adaptado por meu ex-professor Virginius da Gama e Melo.

A película foi um marco do início do chamado Cinema Novo, em um período de convulsão social em face do domínio político do movimento militar. Do elenco, faziam parte grandes atores que brilhavam no cenário nacional, a exemplo de Geraldo Del Rey, Rodolfo Arena, Antônio Pitanga (pai da atriz global Camila Pitanga), Anecy Rocha, Maria Lúcia Dahl, a paraibana Margarida Cardoso, entre muitos outros renomados artistas.

Mas, perguntará o leitor: o que tem a ver isso com o nosso Portal da Memória? E eu lhes respondo: o astro maior da película foi o nosso saudoso conterrâneo ator mirim Sávio Rolim, filho de Nélson Sobreira Rolim, que, nos anos 40/50, mantinha na cidade uma fábrica de tintas, situada perto do balde do Açude Grande.

Como me lembro pelo menos de três dos seus filhos: Epifânio Sobreira (o Sobreirinha), o próprio Sávio e sua irmã Sônia cuja beleza, na época, encantava a juventude cajazeirense e que também fez parte do elenco do filme!… O garoto Sávio foi escolhido para o papel principal do écran – Carlinhos – em teste realizado no Teatro Santa Roza, revelando sua capacidade interpretativa e tornando-se, posteriormente, o símbolo mesmo do filme, com o talento reconhecido pela mídia e pelo público de todo o país.

Para nós cajazeirenses tornou-se um símbolo embrionário do nosso perfil cinematográfico que hoje é reconhecido nacionalmente e até além fronteiras. Que o digam Eliézer Rolim, Marcélia Cartaxo, Gabriel Batistuta, entre outros, cujos demais nomes não os cito para não tirar o foco do nosso herói hoje perfilado. Traduz-se aí a vocação cinematográfica de nossa cidade.

O tempo passou, ou melhor, nós vamos passando pelo tempo. O fato é que hoje, o nosso pequeno herói, mesmo havendo participado de outros filmes – Leão do Norte, de Carlos del Pino, em 1974; Bonitinha, mas Ordinária, de Braz Chediak, em 1981 e Memórias do Cárcere, de Nélson Pereira dos Santos, em 1984 – não conseguiu conviver com o peso de sua enorme popularidade, pelo menos em termos. A vida tornou-se para ele um peso e sua madrasta, conduzindo-o por caminhos jamais pensados pelos que lhe eram próximos.

Hoje, estaria com 67 anos de idade. Muitos já o viram perambulando anonimamente, quase flagelado, pelas ruas de João Pessoa e de outras cidades nordestinas. Constata-se hoje que ele não conseguiu desenvolver sua carreira artística com o mesmo brilho inicial, sendo condenado ao esquecimento e a difíceis condições de subsistência. Havia notícias de que ele, ultimamente, passava por precárias condições de sobrevivência, sendo confundido com mendigos.

A última vez que o encontrei, ele morava “de favor” no quintal de uma casa abandonada, situada numa daquelas sinuosas ladeiras nas proximidades  da Basílica de Nossa Senhora das Neves. Talvez o destino o tenha levado para ali, a fim de que rememorasse os dias de sua infância, na residência dos pais e irmãos, localizada no início da Rua Padre Rolim, na primeira casa, já quase na porta da sacristia da Igreja de Nossa Senhora de Fátima.

Ah, se pudéssemos voltar no tempo!… Ah, se Sávio tivesse podido reviver aqueles saudosos tempos de convívio familiar.

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