Ao saber da morte de Edme Tavares, meu primeiro impulso foi repassar situações marcantes de nossa convivência, aliás, pouco intensa, devido às trajetórias de vida, que nos levaram a caminhos e lugares diferentes. Do ponto de vista ideológico, estivemos em campos separados, sempre, embora as contingências políticas tenham favorecido nossa união circunstancial. Na época de estudante, por exemplo, ele foi para o Crato e Rio de Janeiro e eu estudei em Fortaleza e Salvador. A luta eleitoral em Cajazeiras, contudo, nos aproximou, pelo menos em 1963, quando ficamos lado a lado com o empresário Raimundo Ferreira que tentou ser prefeito de Cajazeiras, pela primeira vez.
Mais de cinquenta anos depois, a lembrança desse fato vem acompanhada da visão romântica do movimento popular liderado por Raimundo (PSB), que sem apoio de nenhum chefe político de peso enfrentou três concorrentes: Chico Rolim (UDN), Acácio Braga (PSD) e o major Zé Leite das Areias (PL). Edme e eu éramos as figuras formalmente de maior realce, tanto que o guia eleitoral, então feito ao vivo, e carros de som anunciavam eventos da campanha mais ou menos assim: hoje no comício falarão o “acadêmico”, Edme Tavares, e o “doutorando” Francisco Sales Cartaxo… Eu estava a quatro meses da formatura na UFBA, por isso o “doutorando”… Quando conto essa história, meus filhos riem à beça… E não só eles. Parece coisa de outro mundo… E é.
Nossas divergências eram de feição ideológica, a Guerra Fria pondo um muro entre as concepções que tínhamos do mundo e da política. Essa marca sempre nos acompanhou, muito embora, outros fatores contribuíram para nos aproximar. Cajazeiras nos unia, acima de qualquer outro valor e das diferenças entre nós. Disto e também das conversas que tivemos em 2008 falarei em próximo artigo. Hoje me limito a transcrever fragmentos de seu perfil, ressaltando alguns fatores do invejável sucesso político-eleitoral de Edme Tavares. Os trechos entre aspas são do livro “Do bico de pena à urna eletrônica”, escrito em 2006, inseridos no item referente à longevidade política de Epitácio Leite Rolim.
“Afeito às articulações palacianas – desde quando, no governo João Agripino, ocupou a subchefia da Casa Civil, seu primeiro cargo público relevante -, Tavares se movimentava com desenvoltura nos gabinetes de autoridades estaduais e federais, descobrindo e assegurando os benefícios que a máquina pública propicia, em termos de captação de recursos para obras e serviços públicos, de posições e empregos para correligionários e aliados políticos em suas bases eleitorais. Dessa forma, Tavares supria uma de suas salientes deficiências: ausência de contato direto com as massas. Faltavam-lhe, portanto, condições espontâneas para granjear popularidade”.
“Epitácio o socorria, preenchendo esse vazio. Sempre próximo do eleitor, até por fastio das lides parlamentares, dos ares da capital, Epitácio cumpria o papel de segurar os votos de que o outro necessitava para representar Cajazeiras na Assembleia Legislativa da Paraíba (três mandatos sucessivos) e na Câmara Federal (dois mandatos seguidos), durante 20 anos sem interrupção, de 1971 a 1990”.
Voltarei ao assunto para falar acerca da atuação de Edme no tempo de Ivan Bichara e, também, da lição de pragmatismo que recebi dele em 2008, a propósito da campanha eleitoral e da vitória de Leonid Abreu prefeito de Cajazeiras.