Capela de Nossa Senhora Aparecida, no Distrito de Engenheiro Avidos, celebra 90 anos

O reinício da construção do Açude Piranhas, em 20 junho de 1932, sendo o engenheiro Silvio Aderne, pertencente aos quadros do IFOCS – Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas, foi causa rápida do aumento da população do povoado e várias iniciativas foram tomadas para atender aos desejos e necessidades do povo.

Além do hospital e do cemitério, construídos em função da epidemia de 1932, Dona Celina Aderne (Celina significa “filha do céu”), esposa do Engenheiro responsável pela obra, Silvio Aderne, encetou uma campanha para a construção de uma capela neste mesmo ano.

Conseguiu com a firma todo o material, além dos operários, mestres de obras, pedreiros e o responsável pela construção do altar foi o marceneiro Zé Cabral. Dona Celina cotizava os operários que tinham melhores salários, os comerciantes e os proprietários de terras para ajudar a comprar o que faltava no almoxarifado da Inspetoria.

O terreno para a construção foi doado pela família Coura e ainda hoje a igreja usufrui as rendas deste terreno, do que sobrou para construir a capela que pertence ao patrimônio, através de foros e laudêmios.

Não se tem conhecimento de quem foi a iniciativa para ser Nossa Senhora Aparecida como padroeira da capela e no dia da chegada da imagem da Santa todos os carros que trabalhavam na construção, além dos demais carros pertencentes a particulares fizeram um grande acompanhamento e uma enorme festa com a participação do povo foi realizada.

O sino doado pela Inspetoria, que foi retirado da cafuringa, nome dado ao trem que transportava pedras para a construção do Açude, ainda hoje é o mesmo que badala para chamar os fiéis para as celebrações religiosas e principalmente para anunciar o falecimento de alguém da comunidade.

Em 1933, no mês de maio, o recém empossado vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, Padre Manoel Vieira, escreveu no livro de tombo: “visitei todas as capelas que são no número de quatro. Iniciei os trabalhos da de Boqueirão que se achava em estado deplorável. Reformei o edifício, fiz aquisição da Padroeira e de mais três vultos: São Pedro, Santa Teresinha e São Sebastião. Mandei construir o altar, adquiri castiçais e um cálice, tudo com concurso do povo, principalmente dos empregados da Inspetoria. Encontrei o patrimônio sem déficit”.

Em fevereiro de 1936, o novo vigário, Padre Fernando Gomes, fez uma visita as capelas, já em número de cinco: Balanço, Bom Jesus, Boqueirão, Catingueira e Riacho do Meio. Ele escreveu: “as quatro primeiras estão preparadas de acordo com suas possibilidades, tendo apenas o indispensável para o culto, exceção feita a de Boqueirão que é a mais rica”.

No ano da conclusão do açude, em 1936, no mês de abril, a capela foi alvo de uma das maiores manifestações de fé e religiosidade do povo do Distrito, quando foi celebrada a primeira Missão, por Frei Damião, que além de atrair toda a comunidade, vieram muitos católicos de outros municípios.

Frei Damião voltou outras vezes ao Distrito para celebrar missões e era uma das áreas da Diocese de Cajazeiras, que sempre freqüentava, mesmo vindo fazer pregações em outras paróquias da cidade visitava a Vila onde foi sempre muito bem acolhido por sua população e era comum fazer visitas aos sítios vizinhos da vila.

Esta capela tem um significado muito importante na vida de nossa família: foi nela que foi celebrado o casamento de meus pais, Arcanjo e Mãezinha, no ano de 1945, por Monsenhor Abdon Pereira e foi nela que no ano de 1946 eu fui batizado pelo padre José Linhares e aonde também, em 1955, fiz minha primeira comunhão.

Alguns fatos relacionados a esta capela nunca os esqueci e os guardo com muito carinho nas minhas lembranças: quando das celebrações noturnas eu era escalado, junto com outros meninos, para retirar todos os sapos, a bico de sapato, do patamar da igreja por que as mulheres tinham muito medo deles. Depois da missão cumprida fazia o que mais gostava: tocar o sino para avisar ao povo que a novena ia começar. O repicar do sino fazia eco no boqueirão da serra e para quem teve a oportunidade de trabalhar na construção do açude, a exemplo de meu pai, e de muitos outros habitantes da Vila, deveriam se lembrar da velha cafuringa, soltando fumaça pelas ventas, com suas caçambas carregadas de pedras e o maquinista tocando o sino anunciando a sua chegada.

Por quem este sino dobra? Dobra, principalmente, pelos muitos operários que morreram na construção do açude que hoje mata, com as águas do Rio Piranhas aprisionadas, a sede dos cajazeirenses.

Que Nossa Senhora Aparecida continue abençoando e protegendo os moradores do nosso Distrito.

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