Waldemar Pires Ferreira

SOLIDÔNIO LACERDA

Em passado não muito remoto, Cajazeiras contava com muito boa assistência médica. Os Institutos ainda não se faziam presentes e o nosso Hospital Regional dispunha de minguados recursos. Mesmo assim, ricos e pobres tinham atendimento nos vários consultórios. Os menos aquinhoados  muitas vezes recebiam os remédios, sob a forma de amostras. O médicos não eram muitos. Otacilio Jurema era o decano e o seu nome era bem conhecido além de nossas fronteiras; Deodato Cartaxo tinha conhecida e eficiente atuação profissional; José Jurema verdadeiro pioneiro nordestino, ao se dedicar a uma especialidade em cidade interiorana, limitando sua clínica à Pediatria; Celso Matos que cedo deixou a Medicina, tornando-se empresário e político.

Por fim, Waldemar Pires. Grande figura humana, portador de inquestionável honestidade profissional, nome exponencial que não pode ser esquecido ou ignorado pelas gerações futuras. Circulava com desenvoltura em várias áreas da medicina. Era Clínico Geral por formação, mas tinha conhecimentos de Ginecologia e Obstetrícia, Psiquiatria, Medicina Legal, Medicina Sanitária, Analises Clínicas e Radiologia. Dada essa polivalencia é que encontrávamos Waldemar a fazer partos, a cuidar de doentes mentais, a elaborar laudos para a Justiça de lesões corporais  ou de exames cadavéricos, a vetar ou a liberar a comercialização de gêneros alimentícios para o consumo público, a fazer exames laboratoriais de rotina, a realizar exames radiológicos mais simples, sem esquecer que freqüentemente auxiliava em atos cirúrgicos, integrando a equipe do Hospital.

Naquela ocasião, dois filhos da terra exerciam com sucesso, atividade médica em outras plagas – Alcebíades Rolim que fixou-se no Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana e Vital de Sousa Rolim que teve destacada posição no meio médico de Campina Grande. Posteriormente, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde fomos companheiros no Hospital dos Servidores do Estado e tivemos convivência diária.

Os médicos eram poucos, porém eram de valor. Se não havia quantidade, havia qualidade. Tinha admiração por todos eles, mas particularmente por Waldemar por sua grande cultura médica, pela sua abnegação, por sua dedicação aos pacientes,  por seu espirito humanitário e por seu desprendimento pecuniário. Certa feita, quando recém-formado, ao visitá-lo no consultório à Av. João Pessoa, presenciei o atendimento a um cliente. Acompanhei o seu minucioso exame físico do paciente, tomando conhecimento da sua conclusão diagnóstica e assistindo as suas recomendações quanto ao uso da medicação.

Terminada a consulta ele foi indagado – “quanto lhe devo, Doutor?” Ele atrapalhou-se, quis fugir a pergunta e respondeu: – “Dr. Solidônio é quem sabe”…Eu de nada sabia, era apenas um visitante. Para satisfazer aos curiosos sobre o que ocorreu, como era de esperar, a consulta foi de graça. Era sempre assim. Acredito até, que ele dificultasse  a vida dos colegas que viviam do seu trabalho profissional. Na verdade, ele tinha independência econômica que aliada ao seu temperamento, permitia que fosse dispensada qualquer remuneração.

Waldemar Pires se completou ao contrair matrimonio com a jovem Iracles Brocos, idealista, dinâmica, realizadora, que deu vida a Cajazeiras. Descobriu e divulgou valores até então ignorados, na pintura, na música, no teatro, no folclore… Nas suas atividades, era tão polivalente, quanto o esposo na área médica. Iracles não vivia o presente. Faleceu precocemente, mas antes alcançou o futuro. Era uma mulher atualizada, que sem tropeços, estaria enfrentando os dias atuais.

Assim era Waldemar Pires, que pelos seus feitos e pelos bons serviços que prestou  as pessoas de todos os níveis sociais da comunidade cajazeirense, elegi para vulto de minha admiração. Seu nome não deverá jamais ser omitido, quando se recordar os grandes beneméritos da nossa cidade

Solidônio Lacerda, médico cajazeirense residente no Rio DE JANEIRO

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