Um cajazeirado

Quem adota Cajazeiras como sendo sua segunda terra natal é chamado de “cajazeirado”. Eu me tornei um deles. Nas andanças de meus pais durante a minha infância, percorrendo vários municípios paraibanos, onde faziam moradia temporária, teve uma pausa de alguns anos. Fixaram residência em Cajazeiras e lá ficaram até 1958. Nesse estágio de vida em Cajazeiras ganhei mais duas irmãs: Elza e Nísia.

Com a ajuda do meu tio/padrinho, conhecido em Cajazeiras como Seu Leitão da Pernambucana, conseguiram construir uma casa, o que, de certa forma, concorreu para que ali permanecessem por algum tempo. Era a terra em que nasceu meu pai e isso o deixava mais feliz. Afinal de contas voltava ao seu berço, cidade pela qual sempre se declarou um apaixonado. Embora a recíproca não tenha sido tão verdadeira. Não há no município uma rua ou escola com o seu nome, retribuição de homenagem que merecia pelo muito que fez por Cajazeiras e pela Paraíba. Foi, sem dúvidas, um dos seus filhos mais ilustres, não só pela produção cultural que deixou como legado, mas pela biografia em que se destaca sempre uma postura de dignidade e honradez nos diversos cargos públicos que ocupou no Estado.

Cajazeiras teve na minha vida uma importância muito grande. Mesmo após virmos morar definitivamente em João Pessoa, ainda criança, sempre voltava lá para passar férias na casa dos meus tios/padrinhos. Lembro com saudades das “Semanas Universitárias”, eventos promovidos pelos estudantes universitários do município, durante o mês de junho, quando ocorria uma intensa programação festiva de cunho sócio-cultural. Essa convivência constante com a cidade produziu um sentimento afetivo que me fez considerá-la minha segunda terra natal.

Em Cajazeiras frequentei os primeiros bancos escolares. Conhecida por ser a cidade que ensinou a Paraíba a ler, em razão da posição de vanguarda assumida com a instalação de uma escola por um dos seus fundadores, o Padre Rolim, em 1829, se tornou o centro de educação do Nordeste. Não poderia ser um local melhor para iniciar minha vida voltada ao conhecimento do saber.

Nesta quarta feira, 24 de Maio, participo com alegria das comemorações festivas do quarto aniversário da ACAL – Academia Cajazeirense de Artes e Letras, da qual, com muita honra, faço parte ocupando a cadeira que tem meu pai, o historiador e escritor Deusdedit Leitão como patrono.

Nos dias 26 e 27, sexta e sábado, estarei presente nas eliminatórias do Festival de Música da Paraíba, promovido pela EPC/Rádio Tabajara, FUNESC e Secretária Estadual de Cultura, com apoio da Prefeitura Municipal, que neste ano presta homenagem a outro cajazeirense ilustre, o compositor e cantor Zé do Norte.

Por tudo isso, posso me considerar então um “cajazeirado”.

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