Tipos populares

ANTONIO GUIMARÃES MOREIRA

Os tempos sucedem-se. A vida continua e temos a impressão de que na infância, as coisas corriam mais lentamente e a vivência dos fatos triviais tinha mais sabor e gostosura. Como era difícil chegarem as férias escolares, o Natal e o São João. Tudo isto era aproveitado com requinte de prazer e satisfação. Tudo então tomava a cor do vidro colorido daqueles tempos. A inquietude da população angustiada pela ameaça da seca e cangaceiros, aparecem aos olhos do menino, como uma novidade, algo diferente, onde a nossa imaginação completava o aspecto ideal no mundo da criança.

E assim me vem a mente as figuras populares de Cajazeiras.

“Raimundo Doido”, vivendo da hospitalidade bondosa do Coronel José Dantas, era o que se pode chamar um doido filósofo, pacífico e querido da meninada. Ninguém corria do amado doido. Ao contrário, era uma espécie de sócrates cajazeirense a ensinar a meninada a sua sabedoria e filosofia. “Tomar banho no açude grande na sexta-feira da paixão era além de proibido, perigoso.” “Já tomara de manhã…” E saia cantando pela rua como um pária da cidade calma e feliz.

O “Pedro Torto” da rua da feira velha, gostava e vivia numa cana contínua. Quem não lembra daquela figura pequenina e inofensiva a bambolear pela cidade. Era o que se pode chamar de um ébrio bom, de um pé de cana inofensivo. Tinha as suas virtudes e utilidade. Certa vez, tremenda dor de dentes me atormentava. Chamado Pedro Torto, tomba aqui e acolá, entra como um médico, um taumaturgo, um deus e colocando o seu dedo sobre a minha face, faz-se o milagre. Era assim Pedro Torto, um boêmio e um curandeiro.

ANTONIO GUIMARÃES MOREIRA É CAJAZEIRENSE E REGISTROU SUAS MEMÓRIAS EM CRÔNICAS DO COTIDIANO. ESTES APONTAMENTOS FAZEM PARTE DO ACERVO DO HISTORIADOR CAJAZEIRENSE DEUSDEDIT LEITÃO.

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