Terezinha Lustosa

DERMIVAL MOREIRA

Quando vista em passos firmes pelo centro de Cajazeiras, a mulher magra e sempre elegante não demonstra a idade que tem. Quem assim a vê, não imagina quantos leões já teve ela de matar desde tenra idade, porquanto sua primeira década de vida foi de luta pela sobrevivência. Mas sua história de vida e de superação, tal qual num livro aberto, é logo revelada sempre que oportuno e a intimidade permite.

Terezinha Lustosa nasceu no Sítio Impueiras, então município de Cajazeiras, em 1937. Filha de pequenos agricultores, logo cedo a realidade fez-lhe mostrar a necessidade de ter de arrancar, ela mesma, do solo seco, o pão de cada dia. 

Aos 4 anos de idade ficou órfã de pai e dali por um bom tempo a vida para ela, sua mãe, Francisca Moreira de Moura, e seus 7 irmãos, mais que uma dádiva, seria um desafio que deixaria marcas em sua personalidade para toda a vida.

Já adolescente, teve a oportunidade do contato com o alfabeto. Seu tempo de escola não totaliza 2 anos, mas, nessa sua breve passagem por uma sala de aula, teve o privilégio de aprender as primeiras lições com pessoas do naipe de Nazareth Lopes e Lindalva Claudino.

Infelizmente a necessidade de trabalhar no campo não permitiu que continuasse a descobrir o mundo através dos livros. Mais adiante, revelou-se hábil na arte de costurar, atividade que seria importante no complemento da renda da família mais tarde. A máquina de costura seria sua companheira por toda vida e, depois dos filhos, esse ofício seria o seu maior elo com o meio social.

Nos anos 50, Terezinha se encontrava na flor da sua idade. Vieram anos mais amenos para a sua realidade. O desabrochar de sua juventude coincidiu com a construção da Capela de Fátima, no sítio Cipó. Fato marcante na vida de pelo menos duas gerações de irmãos e primos da família Moreira. Em torno de missas, quermesses, novenas, missões e outras atividades religiosas, girava a vida social daquela grande comunidade camponesa. As atividades, digamos, profanas, também estavam presentes e conviviam harmoniosamente com os ritos católicos – O pátio da Capela de Fátima era o palco; os parentes amigos e vizinhos, a platéia. Havia as cantorias de violeiros, os “sambas” (forró ou baile) e dramas (teatro) – encenado por jovens a partir de textos e livros adquiridos pela Professora Lindalva. Se no dia a dia a realidade se mostrava rigorosa, no drama encenado a memória privilegiada e o desembaraço faziam da jovem Terezinha estrela do teatro, onde a fantasia  tornava a vida menos árdua. Era a efervescência de uma juventude que na década de 50 vivia seus anos dourados, também no Cipó.

O tempo passa, chegam as responsabilidades da vida adulta e com ela, outras necessidades. Em 1965 Terezinha se casa com Otacílio Dias. Começa outra fase na sua vida. Sem teatros, sem fantasias e com os dramas reais que teria de enfrentar,  entre os quais, a criação e educação dos seus filhos. Desafios e preocupações estas motivos de angústia e ansiedade, mas todos enfrentados com fé em Deus. Criou seus 4 filhos em meio a estas dificuldades e incertezas. Contudo, jamais essa mãe desistiria do sonho da educação que não teve, para os seus filhos. Empreitada para a qual contou com o apoio imensurável da sua mãe (“Vovó Francisca”).

As habilidades manuais que Terezinha sempre teve para bordados, cortes e costura, lhe faltaram para a culinária. Considerando que em seu tempo e condições não havia qualquer glamour em cozinhar,  evitar tal encargo era comum a quem dominava outros dotes e aí talvez resida o seu desinteresse pela culinária. Ainda hoje quando cobrada por isso, ela diz que nasceu para ser estrela (certamente aqui lembrando dos “dramas” no pátio da Capela de Fátima) e não para ser “chef de fogão”.

Sempre muito informal, é o  tipo da mulher que você gosta ou detesta; que faz amigos com facilidade, mas que também não faz questão de perde-los ao menor sinal de desapontamento. Tem na franqueza uma de suas maiores qualidades. Costuma ela dizer que não tem “papa” na língua e faz o tipo que “perde o amigo, o primo, o parente, mas não perde a piada”. Se você soube que D. Terezinha o defendeu dizendo que “você não é ruim demais”, sorria! Ela não só o defendeu, como o elogiou. Pois que essa é Terezinha Lustosa, com seus defeitos, qualidades e virtudes. A pessoa a quem seus  filhos (Dermival, Euridenes, Eridan e Damião) tudo devem.

DERMIVAL MOREIRA É BANCÁRIO APOSENTADO

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