Sou – e tenho consciência

VALIOMAR ROLIM

Conheço Bernardino Bandeira desde sempre. Desde o primeiro grau no velho colégio Padre Rolim. Àquela época, já o observava terminando o curso ginasial, o primeiro grau da época, entre alunos maiores e, digamos assim, jovens há mais tempo que ele.

Por aquele tempo já se observavam duas qualidades enraizadas no nosso amigo: a curiosidade e a assiduidade.

Numa pessoa tão jovem, tornou-se notória a manifestação tão clara daquelas duas qualidades. Fosse no colégio, fosse na igreja, Os padres propagavam e propalavam, sobretudo a pontualidade, a assiduidade e, quando falavam na curiosidade, sempre se referiam à qualidade de querer aprender, descobrir e nunca à bisbilhotice, à indiscrição.

E foi assim. Durante todo o período em colégios e universidade a fama de ser curioso e pontual precedia o nosso amigo. Nunca faltava a uma aula, nunca chegava atrasado e, se por acaso acontecesse, antes que ele justificasse já se pressupunha, teria sido por uma causa muito relevante.

Graduado em engenharia eletrônica, Bernardino foi trabalhar na TELPA S.A. lá permaneceu até a sua privatização quando já era presidente da empresa. Durante todo esse tempo não faltou nenhuma ocasião e, por uma vez que fosse, por motivos pessoais, ausentou-se do trabalho antes do fim do expediente.

Com a aquisição da TELPA S.A. pela TELEMAR pelo processo de privatização do governo, Bernardino permaneceu na nova empresa, ainda como dirigente. Nessa época, já perto da aposentadoria, os amigos já faziam brincadeira com a historia da pontualidade com a curiosidade. Todos brincavam que o sentimento que mais o dominava era a curiosidade, a bisbilhotice, Bernardino, orgulhoso da fama, sempre queria posar de pontual, de assíduo e por ai rolavam os papos.

Um belo dia, ao chegar na empresa, passou em revista os jornais do dia e viu um anúncio da missa de sétimo dia de Francisco de Assis de Lima, um colega do curso ginasial. Passou todo o dia pensando, de que teria falecido o seu amigo? Tão jovem, o que o havia tirado? O problema era que a missa era às 17 horas e, àquela altura, ele estava em pleno expediente.

O dia durou uma eternidade para Bernardino. Ligou para vários colegas da época, tentou de todas as maneiras saber o que teria sido a causa da morte do antigo colega Diá, mas não conseguiu. Nem se deu por si, quando notou, que, em pleno horário de expediente, estava entrando na igreja. Na porta, perguntou, à primeira pessoa que viu, a causa da morte de Diá. Ao saber, nada mais o prendeu ali, voltou para a empresa.

Só então teve a certeza: era muito mais curioso que assíduo.

VALIOMAR ROLIM, MÉDICO E ESCRITOR

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