Segunda Operação Andaime: cadê o dinheiro?

Cajazeiras amanheceu ouriçada. Agentes federais davam buscas em residências e empresas. Que foi dessa vez? Procuravam meios de comprovar as malfeitorias praticadas pela quadrilha que criou empresas fantasmas, manipulava licitações, desviou recursos públicos para o bolso dos seus integrantes. Cajazeiras amanheceu excitada no dia 16 de dezembro. A Polícia Federal prendeu gente também. Os empresários Mário Messias Marinho e Hélio Farias, o Hélio das baterias. De novo? Sim. Os dois voltam à penitenciária onde estiveram meses atrás. Assim foi a Operação Andaime 2: duas prisões preventivas, duas conduções coercitivas (Jorge Messias e Isabela Alves Soares), cinco mandados de busca e apreensão nas residências de Hélio Farias, Marinho e seu irmão Jorge, e nas empresas Limcol e Marinho Representações.

Qual a diferença da primeira fase da Operação Andaime?

Agora houve menos gente presa e mais seletividade. Explico. Na Operação de 26 de junho, foram dez prisões e muitas buscas e apreensões no sertão, incluindo em prefeituras. Quarta-feira, os agentes do bem focaram direto no alvo, cujo chefe aparente é o empresário Marinho, ao que tudo indica, o personagem mais destacado desse grupo. A força-tarefa federal sediada em Sousa vem se aperfeiçoando, graças ao acúmulo de experiência, às informações já coletadas e à análise de documentos e depoimentos, em especial, as declarações obtidas ao abrigo de colaborações premiadas. É bom recordar que, depois do pioneiro Francisco Justino, a sua família aderiu à delação premiada: Elaine, Mayco e Fernando Alexandre. O engenheiro Geraldo Marcolino também resolveu colaborar. Portanto, já são cinco delatores premiados.

O procurador Thiago Misael foi didático.

Na entrevista coletiva, ele explicou que a nova prisão de Hélio das Baterias se deu porque ele voltou a praticar as mesmas ações delituosas determinantes da sua prisão em junho. Já Marinho, estava atrapalhando as investigações, além de outras razões. Na entrevista coletiva de quarta-feira passada, empresa fantasma, disse o jovem procurador, é aquela que só existe no papel, o dono põe o envelope debaixo do braço, apresenta-se na licitação e ganha a concorrência. A partir daí prossegue o esquema na execução das obras, com rateio da grana, fiscalizações de faz de conta, medição de obras, preparação de planilhas etc. Tudo falso. Menos a quadrilha. A quadrilha é real. Comprovações com notas frias, recibos fabricados, relatórios mentirosos. Tudo falso, como as eleições da República Velha. Uma farsa. Com uma diferença fundamental: naquela época a eleição era feita à bico de pena e elegia legítimos representantes das oligarquias; hoje fabricam-se papeis falsos em computador e engordam-se bolsos criminosos com recursos públicos roubados.

A propósito, aonde estão os recursos desviados?

A força-tarefa instalada em Sousa, na opinião do procurador Thiago Misael, já acumulou experiência ao longo desses meses e avança cada vez nas investigações com mais segurança. Por isso, não tenho dúvidas, a equipe de policiais, procuradores e auxiliares puxarão os fios até chegar às fontes onde está o dinheiro roubado. Em Cajazeiras, a voz das ruas já sussurra. Primeiro, percorrer o entorno e observar os laranjais. Depois, recorrer aos cartórios. Enfim, seguir o rastro do dinheiro sujo. Tão sujo como as fichas de alguns políticos. É só ter paciência e apurar o faro.

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