Roubaram nossa História

Um dos grandes interesses de toda a minha vida sempre foi a História. Um povo sem história é um povo sem passado, e o presente, e seu sucedâneo, o futuro, são consequências desse. Todas as grandes cidades do mundo, e até algumas mais humildes, dispõem orgulhosamente de seus museus, que são uma espécie de cartão postal que diz: somos isso, e a nossa grandeza veio do que está exposto nesses museus. Até pequenas vilas dispõem de um memorial onde se preserva(m) suas relíquias que é o do tempo passado, se chega ao presente.

Aqui em Cajazeiras, quando eu era um adolescente, e se criou a Biblioteca Municipal Castro Pinto (estranhamente leva o nome de um cidadão de nossa capital, como se não sobrassem figuras históricas de relevância que fazem por merecer ter o nome de nossa biblioteca – e vou não citar nenhum, pois ficaria fazendo uma injustiça a outros insignes nomes de nossa cidade), existia, por trás de onde se guardavam os livros, no lado esquerdo de quem entra, uma sala, não vou dizer que era grande, mas também não era pequena, onde se guardavam os objetos que futuramente comporiam o museu de nossa cidade.

Era a diretora da biblioteca Dona Biva Maia e, de vez em quando, sob sua severa supervisão, a gente adentrava a este espaço e contemplava nosso passado. Bem me lembro, existiam os livros que Padre Rolim, nosso fundador utilizava. Inclusive podiam se ver papéis com anotações de próprio punho do fundador, alguns manuscritos do Padre Mestre. Algumas batinas, estolas, as roupas que ele e outros religiosos usaram ficavam pendurados num cabideiro. As palmatórias com que ele “ensinou a Paraíba a ler”, entre outros objetos. Não era um acervo que se poderia dizer que era enorme, mas era bastante significativo e eu, assim como outros privilegiados, tínhamos acesso àquela parte de nossa História.

Quando da gestão passada, houveram algumas reuniões concernentes ao estabelecimento desse nosso museu, que se tentava fazer do Colégio Monsenhor Milanez o local onde funcionaria nosso tão aguardado museu. Professor José Antônio e, em parte eu mesmo, achávamos que nosso museu merecia um prédio com arquitetura moderna, em que existisse espaço capaz de guardar com dignidade e segurança nosso acervo histórico.

Em relação a essa essa sala da Biblioteca Municipal, houve a necessidade de aumentar o espaço para caber mais estantes de livros e o acervo do museu foi transferido para uma sala situada na então Escola Técnica, atual IFPB, que, como todos nós achamos, estava relegada ao abandono.

Agora, no novo governo municipal, primeiro sob o comando do Professor Chagas Amaro, e, agora, na chefia da Secretaria da Cultura, de Ubiratan de Assis, se veio a iniciativa de transferir o acervo abandonado no IFPB, para a nova sede da Secretaria, que seria o ponto da partida para o tão almejado museu. O acervo ficaria numa sala especialmente destinada a guardar, e para quem quisesse, visitar, nosso incipiente museu. Ponto.

Na noite da inauguração, ao lado do acervo sobre nosso futebol, que é tão caro ao nosso grande Reudesman Lopes, se abriu ao público o acervo que serviria de ponto de partida para o nosso Museu. Estive pessoalmente nesse evento. Agora, quando eu vi os objetos expostos, e recordando do que tive a ocasião de de ver na sala da Biblioteca Municipal, não acreditei e tive que perguntar à pessoa que fez o translado da sala do IFPB, para a Secretaria de Cultura, Chagas Amaro: “Professor, isso é tudo o que havia na sala da Escola Técnica que pertenceria ao museu?” Perguntei, como que atônito, e tive a mais amarga das respostas: “Pepé, isso era tudo o que havia lá”.

Bem, o que havia era a louça quebrada de Mãe Aninha, dois repositórios para guardar acho que santos, mas sem estar ocupado pelos santos, uma máquina de costurar de lançadeira, alguns fósseis de peixes, que, segundo soube, estavam expostos na Biblioteca e uma bomba da Primeira Guerra Mundial.

Senhores, meus parcos leitores, graças a Deus se retirou e estão à nossa vista pelo menos esses objetos. O sumiço, furto, não sei designar um nome, para somente existir aquilo para expor no nosso museu, fica aquém da pior das expectativas. Houve, e eu sou testemunha, uma enorme subtração do acervo que outrora se encontrava na Biblioteca Municipal, e, ainda, e vamos fazer uma análise otimista: espero que particulares de boa vontade venham a nos oferecer os objetos históricos que se encontram em seu poder. Me faz lembrar quando o Padre Mestre entregou suas comendas recebidas do Imperador ao Desembargador Boto: “Boto, fique com minhas medalhas, pois sei que se ficar para meus parentes eles irão dar fim”.

Pois é… Nós, os parentes indignos de Inácio Rolim, por ação ou omissão, demos fim ao grosso do nosso acervo histórico, que, como o púlpito em que nosso fundador fazia suas preleções, foi entregue a um museu em João Pessoa e deram fim…

Fica meu mais veemente protesto e minha enorme indignação pelo destino que está tendo nosso paupérrimo acervo histórico. E um pedido aos cidadãos de boa vontade: que venham a devolver esses objetos.

1 comentário
  1. Meu amigo Pepe
    Lamentável seu relato. Compartilho de sua indignação e reitero o pedido de devolução destes objetos, que igualmente a você tive a oportunidade, ou melhor a felicidade, de vê-los na sala da biblioteca por volta de 2974

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