Rua do Gato Preto

Meu pai chegou a Cajazeiras nos anos 20 do século e milênio passados. Após o seu enlace matrimonial, vindo do sítio Riacho Fundo, passagem obrigatória para quem vai a Engenheiro Ávidos (Boqueirão), estabeleceu-se em Cajazeiras, com um pequeno comércio, leia-se “bodega”, que se localizava na Rua do Posto, atual Rua Desembargador Boto.

Iniciando-se na atividade de pedreiro, logo passou a “mestre de obras”, graças ao bom relacionamento que manteve com os que faziam a comunidade episcopal, o que o credenciou junto àqueles que detinham o “poder aquisitivo” em nossa cidade. O resto, as obras que ele construiu e nas quais, ainda hoje, vejo as suas mãos construtivas, são a afirmação que dignifica a sua prole.

Bem no início dos anos 30, construiu a sua “casa própria” onde nasceu a maioria dos filhos, inclusive este ensaio de escriba. Assim é que, ao que me lembre, sua primeira moradia própria foi erguida numa rua pobre e sem referência, ou melhor, só havia uma referência: rua das “pensões alegres”, primeiro embrião dos cabarés da cidade, que depois se transferiram para a Rua da Rodagem, da “Paia”, dos “Sete Candeeiros”, até chegar ao “Babado Novo”, nas proximidades do antigo aeroporto da cidade.

Mas, aí é outra estória. A de hoje é que, naquele tempo, a via era conhecida também como Rua do Gato Preto que, tempos depois, se tornou Rua 13 de Maio, como eu a conheci. Pois bem! Reza a lenda que ali, bem próximo de nossa casa, morava um casal humilde, mas muito respeitado: Seu João Preto, cujos filhos, nossos amigos de infância, adotaram, sem nenhum preconceito de nossa parte – ainda não havia leis de discriminação – o sobrenome de Preto. Assim, o mais conhecido era Chico Preto, nosso colega das peladas futebolísticas, que nunca reclamou da alcunha. E a família dos Pretos possuía, como era hábito na época, um gato sem raça, preto que só a noite. Ficou assim a rua conhecida como a rua de seu João Preto, que era o mesmo que a rua do gato preto.

Tempos memoráveis de brincadeiras inesquecíveis.

Ah! Esqueci-me de dizer: a nossa casa que, devidamente reformada, continua ali firme e forte, foi uma das primeiras casas de família ali construída. Tanto é que me recordo do nosso endereço: Rua 13 de Maio, nº 1, esquina com a Rua Venâncio Neiva. Era ali que começava a nossa rua, que se estendia até o portão do Cemitério Coração de Maria.

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