Presença de Ivan Bichara Sobreira

No dia 11 de junho de 1998 morria, no Rio de Janeiro, Ivan Bichara Sobreira, aos 80 anos, completados pouco antes, em 24 de maio. Ele foi um dos mais importantes filhos de Cajazeiras. Bacharel em direito, jornalista, deputado estadual, deputado federal, dirigente da Caixa Econômica, governador da Paraíba, 1975/1978. Ao final de seus anos, recolhido à solidão da cidade grande, Ivan escreveu três romances: Carcará (1984), Tempo de servidão (1988) e Joana dos Santos (1995). Os dois primeiros publicados pela José Olympio Editora e o último, pela Bertrand Brasil. Antes disso, ele já produzira um ensaio literário de análise da obra de José Lins do Rego e outro sobre o romancista José Vieira.

O caminho das letras de Ivan foi construído a partir de suas atividades como jornalista profissional e diretor de jornal em João Pessoa, desde que começou a percorrê-lo em A Imprensa, órgão da arquidiocese da Paraíba. Mas sua vocação literária teve origem em Cajazeiras, por influência de meu pai. Em depoimento prestado a dois anos do falecimento, Ivan Bichara confidenciou ao jornalista Severino Ramos:

Desde estudante das primeiras letras, no primeiro ano secundário, me interessei pela literatura. O meu parente e padrinho, Cristiano Cartaxo, era um poeta que gostava de ler, gostava de fazer poesia, gostava de escrever, e me levou a conhecer alguns livros, ler Machado de Assis, Eça de Queiroz, de modo que eu tomei um certo gosto literário desde esse tempo. De lá para cá não larguei mais. É uma espécie de complemento de minha vida, uma coisa substancial na minha vida. O gosto pela literatura e a vontade de escrever, de criar alguma coisa.

IVAN BICHARA SOBREIRA

Na política, Ivan foi mais do brejo do que do sertão, mais de Guarabira e menos de Cajazeiras. Casado com Mirtes Almeida, sobrinha de José Américo, ele entrou e permaneceu nas lutas partidárias ao lado do famoso tio afim, de quem era amigo, admirador e fiel companheiro. Sempre.

Isso explica porque as votações de Ivan para deputado estadual e federal nunca foram expressivas em sua terra, salvo num pleito para a câmara federal, quando foi o terceiro mais bem votado em Cajazeiras. Mantinha aqui, porém, votos cativos de parentes e amigos, a começar pelo comerciante Francisco Sobreira, conhecido como major Chiquinho, vereador eleito mais de uma vez e dono de um armarinho, situado no início da Rua Juvêncio Carneiro. Outro fiel seguidor era Cristiano Cartaxo, de quem Ivan era parente, afilhado e compadre. Esses dois e vários outros amigos garantiam a Ivan razoável cota de votos cajazeirenses. Em 1962 tentou, sem sucesso e pela última vez, retornar à câmara federal, onde fora vice-líder da oposição ao governo de João Goulart, filiado ao Partido Libertador, legenda dos seguidores de José Américo na Paraíba.

Por que relembro esses fatos?

Para registrar uma coincidência. Quando optei por fazer o lançamento do livro Guerra ao fanatismo: a diocese de Cajazeiras no cerco ao padre Cícero, no 11 de junho, sábado, na Livraria do Luiz, jamais poderia imaginar que a data assinala o 18º aniversário da morte de Ivan Bichara Sobreira. E mais, descobri por acaso outra coincidência, pasme fiel leitora, revendo um esmaecido cartão de visita de Ricardo Pinheiro, hoje dono daquela livraria, onde eu anotara a data da morte de Ivan!

Não sou supersticioso. Mas tenho a impressão de que Ivan estará a meu lado, soprando os termos da dedicatória que farei aos amigos e às amigas, neste sábado pela manhã, na Livraria do Luiz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

“Os Bruzundangas”

Quem já leu o livro “Os Bruzundangas”, escrito por Lima Barreto, obra póstuma publicada em 1923, fica impressionado…
Total
0
Share