Plástico: de solução a vilão

DERMIVAL MOREIRA

Inventado em meados do século XIX, o plástico revolucionou o ambiente doméstico, comercial e industrial por quase dois séculos. Leve, moldável, versátil e de fácil transformação, seu uso se disseminou como solução a tudo aquilo que necessitasse de ser embalado, transportado e guardado. É fabricado a partir do petróleo e uma mistura de compostos químicos, – orgânicos e sintéticos –  facilmente transformado sob calor e pressão. Sua maleabilidade permite inúmeras possibilidades de formatos ampliando o leque de sua aplicação. Sua constituição evoluiu e nos anos 30 do século XX um novo produto derivado do plástico foi apresentado ao mundo: a poliamida, comercialmente chamada de Nylon. Em seguida vieram o isopor, o polietileno, o poliestireno e o vinil. O plástico e seus derivados se difundiram tanto no cotidiano das pessoas que se tornou impossível imaginar o mundo sem eles.                                                         

Como derivado do petróleo e de constituição não biodegradável, o plástico, dependendo da sua composição, pode levar de 80 a 140 anos para se decompor na natureza. Assim, a inventividade revolucionária de antes, hoje representa um grande problema para o meio ambiente. De solução, o plástico passou a ser visto como um dos maiores vilões quando o assunto é ecologia. É o principal item encontrado à deriva nos mares, representando mais da metade do material presente nas imensas ilhas de lixo flutuante que as correntes marítimas e os ventos mantém estacionadas em 5 grandes áreas dos oceanos. Apenas uma só dessas “ilhas” ocupa uma área no Oceano Pacífico maior do que o Sudeste brasileiro. E isso é apenas o plástico que flutua; porção maior vai parar no fundo do oceano.

Estima-se que metade do plástico fabricado desde sua invenção no século XIX encontra-se ainda presente em algum lugar do nosso planeta, principalmente no fundo dos rios e oceanos. Aterros sanitários, lixões a céu aberto e terrenos baldios são os outros destinos mais comuns. E, embora apenas cerca de 1/3 do plástico descartado na água se mantenha flutuando, são encontradas nos mares mais de 1 milhão de peças de plástico flutuante por quilômetro quadrado. No entanto, os 70% que submergem causam mais preocupação por contaminar o fundo dos oceanos e bancos de corais, base da cadeia alimentar da maior parte das espécies marinhas. Em não se fazendo nada para conter esse ritmo de poluição dos oceanos por este material, calcula-se que em 2050 haverá mais plástico nos mares do que peixes. Diante do problema, a pesquisa científica vem tentando desenvolver fungos capazes de acelerarem sua decomposição. Outro caminho que se busca é a conversão do plástico não reciclável, ou não reutilizável, em combustível de hidrogênio e eletricidade com baixa emissão de carbono para o abastecimento de pequenas usinas térmicas.

Sob os aspectos de riscos para a nossa saúde, a preocupação não é menor. Alguns compostos e aditivos presentes no plástico ou seus derivados, como o isopor, podem representar riscos potenciais à saúde humana e de animais por liberarem resíduos tóxicos quando submetidos à ação do calor. O isopor em contato com o gás da geladeira, por exemplo, libera micropartículas que podem contaminar água e alimentos. Quanto à contaminação da flora e da fauna marinhas, o problema reside na ingestão de partículas de plástico pelos peixes, cujos resíduos permanecerão no organismo daqueles animais e um dia iremos ingeri-los contaminados por micropartículas tóxicas.

Organismos internacionais tem restringido o uso do plástico nas embalagens de alimentos ao tempo que alternativas biodegradáveis tem surgido como forma de atenuar os danos ao meio ambiente, bem como sugestões para reutilização e reciclagem de grande parte do que é descartado. A restrição ao uso do plástico descartável no ambiente doméstico também tem sido encorajada e incentivada. Creio ser necessária uma política de desestímulo – ou mesmo penalidades – ao uso de garrafas plásticas – hoje as campeãs dentre os itens daí derivados. As “garrafas pets” se tornaram o item mais presente descartado nos lixões ou oceanos e a luta contra sua utilização é por conseguinte a luta para abolir o plástico descartável de nossas vidas.

DERMIVAL MOREIRA É APOSENTADO DO BANCO DO BRASIL E LICENCIADO EM GEOGRAFIA

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