Padre Rolim – um construtor da nação

SEBASTIÃO NERY

Quem estudou latim, grego, filosofia, nos velhos colégios e seminários de antigamente, como no meu saudoso Seminário Central da Bahia, conhece bem este nome; Padre Rolim e sua “Gramática Grega”, seu “Tratado de Filosofia”, seu Tratado de Retórica”, seu “Tratado de História Natural”.

Chego aqui a Cajazeiras, na Paraíba distante 500 quilômetros de João Pessoa, por uma longa estrada cercada de verde e águas, neste bendito verão de chuvas, que fez o Nordeste sorrir em pastos e flores, e aprendo que aquele homem adormecido em amareladas bibliotecas foi um construtor da Nação.

A Associação Paraibana de Imprensa e Sindicato dos Jornalistas trouxeram aqui, nesse fim de semana, Vilas Boas Corrêa, Ary Cunha, Reinaldo Jardim e a mim, para palestras e debates em um Seminário de Jornalismo, Telejornalismo e Radiojornalismo, organizado e coordenado pelo ex-deputado, constituinte de 88, Edme Tavares, filho ilustre da terra.

A imprensa e a pátria

Jornalistas do Estado todo discutindo a profissão e suas tarefas, mas sobretudo o país e suas esperanças e desesperanças. Uma nova geração inquieta, angustiada e indignada, que vê, cada dia mais, a imprensa transformar-se em conglomerados empresariais, sempre menos imprensa e sempre mais empresa, e o país desnacionalizar-se, com um governo que o esfarela numa criminosa doação aos interesses externos.

Aqui, no infinito e duro sertão, é que se vê e aprende, nestes dias dos 500 anos do descobrimento , quanto custou ao Brasil tornar-se uma Nação e como é imperdoável retalha-la no açougue financeiro internacional.

Um padre genial

Ha 200 anos, isso aqui era só uma sesmaria, uma fazenda de descendentes dos Albuquerque, portugueses de Pernambuco, e dos Mons Rolim, franceses de Marselha, onde nasceu, em agosto de 1800, entre vários irmãos, Inácio Rolim, que foi estudar no Seminário de Olinda, ordenou-se Padre em 1825, ficou lá ensinando grego, latim, hebraico, sanscrito, filosofia, retórica e outras sabedoria, e dois anos depois já era reitor do Seminário.

Naqueles tempos, o Seminário de Olinda era um dos mais importantes e fervilhantes centros de excelência cultural e política do Brasil, agitado pelas idéias e lutas liberais e nacionalistas das revoluções de 1817 e 1824. Um jovem de 27 anos, vindo dos cafundós dos sertões da Paraíba, chegar a reitor ali, era preciso ser um homem excepcional. E é o que ele era.

Aos 29 anos, deixa tudo lá, os poderes e as glórias da culta Olinda do século dezenove e volta para cá, sua terra e sua gente, e, no canto da fazenda do pai, na serraria, instala uma escola, constrói um hospital, faz nascer  uma cidade. E funda o primeiro ginásio da Paraíba, que não havia nem na capital, primeiro chamada Filipeia, depois Frederica, e Paraíba, e afinal João Pessoa.

Um século ensinando

Não havia professores. Tinha que ser ele. Além do que já ensinara em Olinda, mais francês, inglês, alemão, italiano, espanhol, tupi-guarani. Alcides Carneiro disse bem: “O padre Rolim ensinou a Paraíba a ler”. E o Nordeste.

De todo o vazio Nordeste de então, vinham jovens estudar no único ginásio daqueles mundos sem fim. E o padre gênio, sem professores e livros para os alunos, ensinava tudo e escrevia livros, que mandava imprimir em Paris.

Viveu 99 anos. Ensinou até o fim. Aqui estudaram desde Padre Cícero e o Cardeal Arcoverde ao Senador Rui Carneiro, gerações de nordestinos que lideraram seus estados. Mais do que um mestre, foi um construtor da Nação.

A história de Maringá

E foi também aqui que nasceu valsa “Maringá”, do compositor e maestro Joubert de Carvalho, que muita gente imagina ter sido uma homenagem a Maringá, no Paraná e é exatamente o contrário. A valsa é que deu o nome à cidade.

O velho e saudoso Rui Carneiro, interventor e senador da Paraíba, quando estudante aqui, apaixonou-se por uma garota da cidade, Maria, nascida numa localidade próxima, chamada Ingá: Maria de Ingá.

Maria de Ingá, foi-se embora para nunca mais voltar. Rui Carneiro, amigo de Joubert de Carvalho, contou-lhe a magáo. E o compositor juntou os dois nomes e fez “Maringá”, a canção eterna que o Brasil inteiro sabe e canta.

Mais uma que o Brasil deve a esse genial e fantástico Padre Rolim.

SEBASTIÃO NERY É JORNALISTA. PUBLICADO EM MAIS DE 20 JORNAIS ONDE A COLUNA É DISTRIBUÍDA.

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