Os saudosistas da ditadura militar

Tenho dificuldades em compreender como alguém se manifesta contra a democracia e se afirma saudoso da ditadura militar, de triste memória para o nosso país. E há quem faça isso com ardor e entusiasmo. E o mais grave, muitos têm uma visão positiva do regime de exceção instaurado a partir do Golpe de 1964. Chegam a argumentar, de forma equivocada, que foi um tempo de segurança e sem corrupção. São negacionistas da História, ignorando que foi um período em que torturas e mortes aconteciam como políticas de Estado. A repressão e a censura impostas não permitiam revelar os atos de corrupção e de perseguição política a adversários, praticados nos bastidores da ditadura.

Ainda que a Comissão da Verdade tenha, por documentos, provado as graves violações de direitos humanos cometidas, por agentes públicos, contra aqueles que discordavam politicamente do regime, a extrema direita insiste em rejeitar as verdades explícitas. Os fatos desvelados, no entanto, independem de opiniões ou interpretações influenciadas por paixões políticas. Essa onda autocrática invadiu o mundo virtual das redes sociais, divulgando suas ideias e utilizando as próprias ferramentas da democracia para atacá-la. A mídia corporativa tem dado forte contribuição para o fortalecimento desse ideário.

A partir do impeachement de Dilma Roussef esses saudosistas da ditadura militar começaram a sair do armário, desconhecendo as dores provocadas pelo regime. Agentes das Forças Armadas passaram a ocupar espaços táticos de decisão política. Os promotores do Golpe de 1964 chegaram a afirmar que “instalaram uma ditadura para defender a democracia”, conforme consta da mensagem oficial divulgada pelo então Ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, por ocasião das celebrações comemorativas em 31 de março de 2020. Como pode ser feita a defesa da democracia, impondo um regime de força? Mas houve quem aplaudisse essa declaração.

É preciso fazer com que os “vencidos”, os ditadores, não permaneçam sendo os “donos da história”, contando-nos pela metade, mesmo após a redemocratização. Enquanto permanecerem as narrativas, nem sempre verdadeiras, do passado, insistentemente propagadas pelos saudosistas da ditadura, a nossa democracia corre perigo, como se viu recentemente. No jogo político, a mentira deliberada, procurando deturpar a realidade, constrói um mundo paralelo, edificando “políticas do esquecimento”, impondo “amnésia coletiva”, com objetivos ideológicos extremados. Esses saudosistas da ditadura são orientados a recusar a verdade factual e se alienam politicamente, impossibilitando a atividade do pensar. Ditadura nunca mais.

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