Os saques a feiras livres

No semiárido nordestino, e particularmente da Paraíba, o povo sofria desde o final da década de setenta do século passado, com um forte período de estiagem. A lavoura devastada, os rios, açudes e barragens secando, provocavam a escassez de alimentos e de água para a sobrevivência humana e animal, como se não bastasse a séria crise econômica que o país vivia naquela época. Assim 1980 começava trazendo desolação, tristeza e desesperança para cerca de oitocentos mil paraibanos.

O clima era de tensão social com o povo dessa região não encontrando alternativas, a não ser promover saques a feiras livres e estabelecimentos comerciais, no desespero da busca de sobrevivência. Isso se tornou uma crua realidade do cotidiano nordestino.

Historicamente sempre que isso ocorria ficávamos a ouvir os discursos políticos prometendo ações que pudessem minimizar esse padecimento. Muitos, lamentavelmente, se aproveitavam para faturar política e financeiramente com o problema. É o que chamávamos de “indústria da seca”.

Na Paraíba, o governador Tarcísio Burity decidiu decretar estado de emergência em cento e doze municípios. A saída que a administração encontrava era a formação de “frentes de emergência”, alistando flagelados para trabalharem na construção de pequenos açudes e estradas. Em nosso Estado cerca de cem mil pessoas se inscreveram para essas frentes de trabalho.

Eram preocupantes as noticias de ameaças de invasão às feiras e saques ao comércio dos municípios mais castigados pela seca. Esse cenário tão comum na época, felizmente, desapareceu a partir dos programas sociais recentes. As famílias das áreas rurais já não se sentem motivadas a saquear, nem fugir para outras regiões na necessidade de subsistência.

Claro que a questão da seca está longe de ser resolvida, mas já não vemos aquelas convulsões sociais que afligiam a todos nós que acompanhávamos o noticiário a respeito, com um natural instinto de solidariedade, embora nos sentindo impotentes para resolvê-los. Viver da agricultura e da pecuária nesses tempos de seca era a certeza de experimentar dias de sofrimento.

O nordestino ficava a apelar para a clemência divina na oferta de condições de vencer o flagelo da seca, sem a obrigação de ficar mendigando ajuda do poder oficial, muitas vezes exercida por puro interesse eleitoreiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share