Os Anos de Chumbo em minha memória (II)

Continuando as reminiscências do período militar e seus reflexos em nossa região, venho as retinas cansadas de meus parcos leitores, com o que me lembro daquele longo (o mais longo da história recente de nosso continente) tempo.

A grande diferença para os dias de hoje, é que havia entre os militares que promoveram/protagonizaram esse golpe, era que havia uma motivação, uma espécie de plano, e gente capacitada para levar à frente esse plano de poder, enquanto a antiga ordem, tentava com suas hesitações, j;a que como sabemos, não houve, num primeiro momento resistência, ao golpe militar que como sabemos hoje, foi monitorado (ou mais que isto) pelos Estados Unidos.

Sempre é bom não nos esquecermos do parecer do Gen. Vernon Valters: “Se uma revolução de esquerda ocorrer no Brasil, não teremos uma nova Cuba, mas uma nova China”. 

Então mudanças a algumas para melhor, aconteceram, e até aqui foram sentidas. Ao compasso do propalado “milagre brasileiro”, a Paraíba foi contemplada com a reconstrução com asfaltamento da Rodovia Central da Paraíba, nossa BR 230, a grande obra estruturante que até hoje recebemos.

Tenho que abrir parênteses para lembrar como se deu essa obra. Prometida por João Agripino na eleição de 1965, que esse “ganhou” as eleições de Ruy Carneiro graças à maioria de cerca de três mil votos, conseguida aqui (que depois de uma longa e lenta recontagem, se soube que Ruy havia ganho, mas o mandato de João Agripino já tinha acabado), e a BR asfaltada chegou até aqui bem no começo da década de 70 (71, acho), e uma Companhia de Engenharia do Exército foi durante algum tempo sediada em nossa cidade, trazendo muita gente que inclusive veio a residira aqui permanentemente.

Essa Companhia era comandada por um capitão de Engenharia, que se tornaria uma das pessoas mais populares de nossa cidade, Capitão Kleber (infelizmente não recordo o sobrenome), que também gostava de nossa cidade, e pelo menos com quem teve a oportunidade de conhecê-lo, era uma pessoa agradabilíssima, juntamente com sua esposa, D. Zezinha eram bastante entrosados e até admirados por aqui. E a tropa, como um todo, pegou esse cafundó que éramos e até hoje, em parte somos e fez seu lar durante algum tempo, para a gente como eu, da pequena burguesia, era como ver o progresso chegando em Cajazeiras.

Mas dizer que não houveram as temerosas transações: como o sistema bancário ia ter o impulso que teve, no tempo de Delfim Netto, se fechou mais de 2.000 cooperativas de crédito, que funcionavam como uns banquinhos locais, aqui fechou-se uma, e somente para comparação, em Alagõa Grande, no Brejo paraibano, se fecharam três.

Havia a repressão, mas os movimentos (ou as turmas) que existiam naquele tempo eram mais anárquicos, que esquerdistas, se combatia, ou mais especificamente se criticava de forma mais educada, quem estivesse no poder, especialmente, naquele tempo, a Igreja Católica. Algum grau de politização veio surgir exatamente dessa criticada, mais tarde, como vou escrever sobre isso.

Posso testemunhar que muita gente que depois foi se “esquerdizando”, eram admiradores do sistema, e até do Gen. Médici, o mais sinistro membro desse tempo, que como instituiu o FUNRURAL e passou a pagar aposentadoria para os idosos do campo; como eu me lembro do primeiro pagamento, efetuado, o matuto saiu do Cine Apolo XI, aos brados: “Viva o Presidente Médici”, ai a ditadura deitou e rolou em toso país…

Depois continuo.

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