O jumento é nosso irmão

É triste ver que ainda tem gente que procura xingar outro chamando-o de “jumento”. No mínimo é demonstração de anticultura. Desconhece que o jumento é “animal símbolo” do Nordeste. Ou talvez seja mesmo manifestação de xenofobia, por não gostar do Nordeste. Luiz Gonzaga, em de suas famosas canções, gravada na década de 60, canta na letra composta por José Clementino: “É verdade, meu senhor / essa história do Sertão /Padre Vieira falou:/ o jumento é nosso irmão”.

O Padre Antônio Batista Vieira, cearense de Várzea Alegre, encampou uma campanha em defesa do inofensivo animal, chegando a fundar um clube mundial dos jumentos, o que lhe motivou a escrever a sua obra mais conhecida: o jumento é nosso irmão.

É também um ignorante da história nacional. Não sabe que Dom Pedro I deu o Grito do Ipiranga, montado em um jumento e não em um vistoso cavalo como retratado na tela de Pedro Américo, porque, conforme a experiência dos tropeiros, era o animal que enfrentava com maior desenvoltura os acidentados caminhos que ele estava percorrendo.

Esse xingamento é costumeiramente produzido por quem não conhece o texto bíblico que narra a entrada triunfal de Jesus em Belém assentado sobre um jumentinho. A não ser que seja um “falso cristão”, desconsiderando a condição sagrada que o Novo Testamento registra.

Usar “jumento” como sinônimo de falta de inteligência é um exemplo de arrogância do agressor verbal. Ainda mais quando o pretenso xingamento parte de uma pessoa que se gaba de nunca ter lido um livro. Mas o que esperar de alguém que mal sabe articular as palavras?

Contraria a imagem de solidariedade que caracteriza esse animal. Ele é o emblema da perseverança, da capacidade de sobrevivência em qualquer lugar do mundo, nas condições mais difíceis. É um animal dócil, trabalhador, paciente, humilde, sofre calado quando castigado. Portanto, quem pensa que agride o outro chamando de jumento, na verdade, faz um elogio.

Se o jumento é nosso irmão, todos os brasileiros que gostam de trabalhar, têm alma solidária e se comportam com civilidade e serenidade, não se sentirão atacados pelo insulto da comparação.

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