O esquecimento

Na mídia, em bares, botecos e conversas familiares é comum ouvir que Cajazeiras pouco valoriza muitos de seus filhos, que a beneficiaram e a engrandecem. Falta gratidão, dizem. Onde fica a rua Ivan Bichara? E o colégio Deusdedit Leitão… são apenas dois exemplos simbólicos do esquecimento a que relegamos quem muito fez e projetou longe o nome de nossa terra. Isso me leva à abertura de pequeno livro do mexicano Juan Rulfo, um monumento da literatura mundial, rico de técnicas narrativas ficcionais. Como amostra, aí vai a cena na qual a mãe, prestes a morrer, fala ao filho, enquanto lhe segura as mãos:

Não peça nada a ele. Exige o que é nosso. O que ele tinha de ter me dado e não me deu nunca… O esquecimento em que nos deixou, filho, você deve cobrar caro.

Cajazeiras não é original, bem sei. Reclamação desse tipo há em toda parte. Mas aqui surgiu um fato novo. A Academia Cajazeirense de Artes e Letras, que, ao escolher os Patronos das 40 Cadeiras, ajuda a preservar a memória de destacados personagens. Mais significativo ainda, além de revelar talentos embutidos, estimula o conhecimento da história cajazeirense por meio de biografias e outros estudos. Do contrário, em breve, estariam esquecidos fatos marcantes de nossa formação. Vale dizer, iríamos mergulhar no completo esquecimento. Tal como, em outro contexto, fala Juan Rulfo em Pedro Páramo, extraordinária criação literária.

Mas a Acal só tem Patronos da elite familiar!

Que é isso! Reclama assim quem só enxerga um lado, às vezes, intoxicado por leituras mal digeridas. Ora, entre os Patronos, estão o poeta Gerson Carlos, o musicista e comunicador popular Zé do Norte, o teatrólogo Geraldo Ludgero, o professor Eugênio Pacelli, o radialista José Adegildes Bastos, a professora Nazareth Lopes, a promotora cultural Lacy Nogueira, o maestro Rivaldo Santana, os professores e jornalistas Antônio de Souza e José Pereira.

No casarão, construído no começo do século XX pelo major Epifânio Sobreira, funciona hoje o Memorial Ivan Bichara Sobreira. Nele se realizou, num gesto simbólico, um dos eventos comemorativos do quarto aniversário da Acal. Expressivo reconhecimento de Cajazeiras a um filho, dos mais ilustres: jornalista, advogado, deputado, crítico literário, romancista. E grande benfeitor. Essa reparação só foi possível graças ao apoio efetivo e à sensibilidade do prefeito José Aldemir, que compreendeu o significado da justa, merecida homenagem, articulada pela Academia.

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