O desrespeito criminoso para com os mais velhos

Tanto no Oriente, quanto nas nossas sociedades indígenas, na África etc, existe uma espécie de respeito cerimonial para com os mais velhos, e esses vivem perfeitamente inseridos na sociedade, sendo consultados e inclusive tomando algumas decisões no seio das suas comunidades, entre os descendentes dos maias, por exemplo, a “milpa”, ou seja o rodízio das culturas, é determinado pelo conselho de anciãos, e outras decisões importantes, também é tarefa dos mais velhos. Na, Turquia, na Índia, ocorre situação semelhante. Na Cidade – Estado de Esparta, existia a Gerúsia, o conselho de anciãos, em que até as decisões dos reis poderiam ser revogadas a seu critério,  Infelizmente nas civilizações ocidentais, e mais precisamente nas Américas, existe um ostensivo culto à juventude, ao corpo, às novíssimas novidades, etc., que a velhice é considerada um tipo de doença, e pior, os idosos devem ser alijados do seio da família e da sociedade, como um fardo incômodo. Tanto aqui, como nos Estados Unidos, os idosos são separados da comunidade levados até à força transladados para “depósitos de velhos”, e lá cumprir uma espécie de prisão perpétua. Tudo bem, nossos idosos devem ser cuidados por gente especializada, e algumas dessas cumprem importante papel de cuidares desses, deixando às famílias sem o incômodo de sua presença. Falam inclusive numa tal de “melhor idade”, mas o aspecto segregacionista é evidente.

Eu tinha uma antiga professora, recentemente falecida, chamada Maria Cavalcanti, que lecionava no colégio de D. Carmelita (esta, a exceção que confirma a regra, ativa e lecionando no seu famoso colégio), que ocasionalmente (raramente é o termo mais exato) a visitava. Ela, deficiente da visão, mas que no restante tido funcionava, reclusa ao abrigo Lucas Zorn e lá, ela exercia uma certa liderança, rezando o terço e proferindo interessantes palestras, agora somente para o diminuto grupo de suas colegas, ela deveria proferir estas para muito mais gente; nas vezes que eu a visitei, nunca deixei de aprender algo, que outras pessoas deveriam compartilhar.

Esse pessoal que administra esses e outros abrigos (até o nome é discriminatório), como Sgto. Maciel, que administra o Lar para idosos Joca Claudino, deveriam ter seus trabalhos muito mais reconhecidos, mas pouca gente se lembra desses, e mesmo os familiares dos “internos”. Agora a célula mater da sociedade é a família e esta tem o dever de acompanhar, até mesmo se mora distante, constantemente seus membros mais idosos.

Nos Estados Unidos, que deveria ser o supra-sumo do comportamento ético, na realidade, é uma sociedade, pelo menos nesta área, como constatei quando lá morei, parece a fonte hipócrita desse comportamento, muitos anciãos eram segregados a asilos de idosos e pagando para isso, como já constatado em muitos filmes, e parece que a gente tenta imitar.

No México (proveniente da cultura hispânica ou mais precisamente pré – hispânica, um filho tem que morar junto aos pais, no Japão, acontece coisa semelhante (a imigração japonesa para o Brasil se deu muito em função de filhos primogênitos rebeldes) aqui, e mais ainda com o nosso estado limitado e frouxo, caminha a passos largos para o individualismo e o desprezo aos mais velhos.

Somente assim, a gente não pode ficar inerte com o recente acontecimento sofrido por uma das mais emblemáticas e interessantes figuras de nossa sociedade o Sr. Edilson Figueiredo (mais um leitor que perco…), que foi encontrado em adiantado estado de decomposição, depois de pelo menos três dias se já falecido, sem que ninguém (e eu mesmo me incluo nessa lista) tivesse se interessado do porquê de suas ausências: Saiu de seu costumeiro jogo de dominó, disse que estava cansado, e somente quando o mau cheiro foi sentido na vizinhança, se providenciou alguma coisa, e frente ao seu adiantado estado de decomposição, e foi enterrado às pressas.

Edilson tinha família e sua esposa, D. Estelita, que também é de meu apreço, segundo soube, estava em João Pessoa doente; mas tinha filhos não custava nada a família ligar uma vez por dia e seus parceiros de jogo irem procurar-lo. Estamos vivendo mais, e esse comportamento de descuido pode virar regra.  Em nova York, existe até um departamento que faz o rescaldo dos mortos e esquecidos, vi um documentário que me deixou horrorizado com a frieza: Bem Anglo-Saxã, luvas, máscaras, etc., meus “step parents” (minha família americana – o termo exato não é bem esse), nunca foram visitar seus pais em seus asilos. E perece que eles também, segundo pude constatar, estão tendo o mesmo destino.

Edilson Figueiredo, até mesmo pelo que ele representava em nossa comunidade deveria ter um funeral digno de sua figura carismática, mas até isso nós o negamos.

A gente, salvo exceções, não presta. Temos (e isso passa por cada um de nós) que mudar nossos costumes com relação ao trato com os mais velhos.

Então aproveito o espaço para agradecer a D. Ilma (segunda esposa de meu pai), que  cuidou dele até o último dia de vida, como também ao meu amigo Marcos Feitosa (Marquinho de Querubina), que tratou dela (sua mãe) e de seu José Canuto (seu Pai) com o desvelo que eles fizeram por merecer. A isso se pode chamar de filho.

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