Minha mãe, que falta você me faz!

Minha mãe faleceu no dia 10 de novembro de 1996. Faz 25 anos. Lembro bem seus últimos dias de vida. Joaninha, minha irmã, alertou os irmãos da aproximação da morte. Fomos chegando a Cajazeiras. Muitos dos 12 filhos ainda viviam. Guardo a última imagem dela, deitada na cama, num começo de noite. Eu acarinhando suas mãos compridas e descarnadas. Frágil, em seus 92 anos, mas com disposição de conversar, demonstrando visível melhora em sua saúde. Me animei. Liguei para Sabino Filho, médico e neto querido, e falei de meu entusiasmo. Sua reação fria, foi monossilábica diante de meu otimismo.

– Foi a visita da saúde, tio, ele me disse no dia seguinte.

É verdade, minutos após nossa conversa dona Belinha fechou os olhos em definitivo, na presença de Ilina, Joaninha e Célia Maria, minha esposa, Ilina, sua filha mais velha, deu o alarme.

Isabel Sales Cartaxo nasceu em Várzea Alegre (CE), terra de seu pai, em 12 de setembro de 1904. José Joaquim de Brito (major Zuza da Inácia), era pequeno proprietário e comerciante. Integrou facção política de oposição ao padre Cícero/Floro Bartolomeu. Foi delegado de polícia e, por isso, perseguido, quando a sedição do Juazeiro derrubou do poder o governador do Ceará, coronel Franco Rabelo. Sem segurança no Cariri, major Zuza migrou para São João do Rio do Peixe e, pouco depois, se fixou em Cajazeiras, para os filhos estudarem.

Minha avó, Joana Sales de Brito ou Joana Mendonça, nasceu em São José, hoje Mangabeira, distrito de Lavras. Conheci vovó já velhinha. Isabel, a terceira filha, não chegou a concluir seu curso de professora. O cupido acudiu a viuvez de Cristiano Cartaxo, de modo que a menina se casou em 12 de setembro de 1921, justo no dia de seus 17 anos. O poeta tinha o dobrou da idade…

Há quem pense que minha formação intelectual foi influenciada apenas por meu pai. Não foi. Ele era professor, poeta, jornalista, formado em Farmácia na antiga Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Daí o engano. Cenas guardadas na memória dizem outra coisa. Veio de minha mãe a influência maior. Lembrança marcante, por exemplo, é vê-la deitada na rede lendo romances, biografias, livros de história e política até alta noite. Como o motor da luz parava as 11 horas, ela acendia uma vela e continuava a leitura. Outras cenas vivas na memória. Escutar rádio, noticiário, novela, debates políticos no parlamento, todos os dias. Só eu lhe fazia companhia até meia noite. Muitas vezes. Nossa cumplicidade era enorme. Em muitas coisas da vida.

Minha mãe, que falta você me faz!

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