O Cão, o Coisa Ruim e Mefistófeles

Há coisa de mais de uma década, um dos maiores líderes populistas que essa terra já produziu, Leonel Brizola, talvez o último político com algum tipo de ideologia no nosso país, numa eleição a qual não era candidato, emitiu uma das suas mais interessantes frases, que tento reproduzir e era mais ou menos o seguinte: “O povo brasileiro tem o direito de fazer uma escolha melhor que optar entre o cão e o coisa ruim”. Bem, em 2014, efetivamente os brasileiros tiveram que fazer, e fizeram uma escolha dessas, e escolheram para presidente Dilma, com todos os seus defeitos, e não são poucos. Isso num tempo de fim de paradigma, ou seja, os remédios que o lulismo, que de certa forma foi o continuador em algumas facetas do seu antecessor, Fernando Henrique, já naquele ano estava esgotado, e naquela eleição se perdeu a oportunidade de nossa democracia, que nasceu velha, depois da morte de Tancredo, o Brasil foi entregue a pior face do PDS: Sarney, Renan Calheiros e Collor. O primeiro presidente da nova democracia, que também foi o primeiro presidente (perdoem, caros leitores) “impichado” de nossa história, todos esses tinham o pior ranço do clientelismo, da barganha de baixo nível, e tudo o que a oposição democrática ao regime militar, representada por Tancredo Neves – o maior negociador de nossa história – que até hoje se você ver em algum programa gravado na época, dizia frases extremamente atuais, junto com Ulyisses Guimarães; outro ícone, quiseram derrubar.

Depois do impeachment de Collor, de Itamar, e de seu sucessor sagaz, inteligente e privatizador, Fernando Henrique, que contou com o (desculpem) “o auxilio luxuoso” de Geraldo Brindeiro, cognominado: “o engavetador geral da nação”, que de fato era, pois das seiscentas e tantas denúncias, apenas entendeu que deveriam ser indiciadas, sessenta, e por isso também a corruptocracia do PT ficou mais evidenciada, que essa já existia, apenas não era processada; e, como a Barragem de Mariana, arrombou e enlameou toda a nação, hoje vivemos um segundo processo de impeachment, para defenestrar nossa presidenta incompetente, que nos brindou com pérolas, como a “mandioca”, a “mulher sapiens”, e “a mosquita”. Merecido…

Agora, caro leitor, o que eu vejo, é o “Day after”, quem vai comandar o barco, e os que se apresentam, não tem nem de longe, pelo menos assim me parece, algumas das insuspeitas qualidades que existiam, e ninguém sabia, em Itamar Franco que com uma surpreendente sutileza mineira, conseguiu dar um rumo ao barco, fazer muitas reformas que eram necessárias, como acabar com a inflação, ter maioria no nosso congresso de picaretas, e aprovar as reformas que eram necessárias naqueles tempos e eleger o sucessor. Quando ele estava no poder, junto com Edme Tavares (chefe de gabinete do Ministro da Casa Civil, Henrique Hargrieves, ou nome semelhante), numa das viagens que fiz a Brasília, ele apontava como aquele tempo iria ficar para a história, e acho que ainda vai ficar.

Mas voltando ao que quero escrever, quando, e como não sou profeta e o domingo da votação não chegou, quem está por trás desse impeachment, novamente, a não ser que me surpreendam e muito, o que existe de pior, mais fisiologista no PMDB, o partido mais fisiologista do planeta. Segundo já li, o PMDB faz pacto com Deus e o Diabo, e assim manda no céu e no inferno (rsrs)… Michel Temer, que fora Secretário de Segurança de São Paulo, nunca exerceu grandes cargos executivos, vai comandar o país em uma enorme crise. Um adendo, quando foi nomeado “articulador político”, pela “Presidenta”, a única articulação que empreendeu foi sua derrubada, isso sem um traço sequer da sutileza e habilidade mineira de Itamar Franco, tendo como escudeiro, Mefistófeles em pessoa: Valha-me Deus… Eduardo Cunha (uma colher de chá para os analfas: Mefistófeles era o diabo na peça “Fausto”, de Goethe): Pior, nem seu professor, Paulo Maluf, é essa a tragédia que vamos acompanhar atônitos, com o país literalmente parado.  Que Deus tenha piedade “Dessa terra descoberta por Cabral”… e nos ilumine, se é que ele é como dizem, brasileiro, mas  não parece…

P.S. – Oferece-se estas mal traçadas a Ana Goldfarb, outra insuspeita leitora, a quem rendo minhas homenagens a sua obra pedagógica.

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