O Brasil vai sair melhor da crise

Ao participar de debate na tevê Master, comandado por Gutemberg Cardoso, eu disse que via com otimismo o futuro do Brasil. Falei por convicção. Habituado a lidar com planejamento estratégico, costumo enxergar os fatos numa perspectiva de longo prazo, fugindo do imediatismo ligeiro. Naquela ocasião não pude apontar as razões do meu otimismo. Ficou no ar estranha sensação. Até pareceu provocação diante da terrível crise dos nossos dias. Mas não foi. Agora tento explicar.

A crise abriga, pelo menos, três vertentes:<em> econômica, política e ética.

A crise econômica se manifesta nos baixos índices de crescimento do PIB, nos últimos anos, inclusive com taxas negativas, refletidas no desmanche parcial da base produtiva industrial. Essa realidade gera desemprego, queda brusca nas receitas públicas, aumento da violência, da criminalidade. Tudo isso agravado pela incapacidade de reação espontânea do sistema produtivo e pela inibição de intervenções estratégicas do endividado setor público, abalado em suas receitas. Forma-se um círculo vicioso difícil de ser rompido, até por força do cenário internacional desfavorável.

A crise política tem na descolada representatividade do poder legislativo uma de suas causas, provocada, em parte, pela corrupção sistêmica. A atual composição do Congresso Nacional é uma das piores da história republicana. Por quê? Porque seus integrantes são agentes de negócios particulares, sem interesse em debater problemas nacionais. Partidos políticos funcionam como propriedade de seus donos e nada têm de agremiações ideológicas ou programáticas. Tanto assim que não prospera a discussão das reformas, há muitos anos reclamadas pela sociedade: reforma partidária, da previdência, política, tributária etc. Os raros projetos de lei de inciativa popular não andam.

Já a crise ética aflorou com força no bojo da Operação Lava Jato, símbolo da ação cooperativa do Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal e Poder Judiciário. Seu raio de ação é amplo, extrapola sentenças proferidas na primeira instância. Basta prestar atenção. O Supremo Tribunal Federal confirma, formalmente, a quase totalidade das decisões do juiz Sergio Moro. E mais, o STF determinou a obrigatoriedade da execução de penas de reclusão para os condenados em segunda instância colegiada. Um Deus nos acuda para delinquentes ricos, afeitos à impunidade desde sempre, graças à procrastinação de sentenças que nunca transitavam em julgado! Exemplo emblemático: senador Luiz Estevão.

A crise moral na política está no conluio, revelado em delações premiadas, de empresários, agentes públicos, políticos, doleiros, exibindo-se a promiscuidade, na qual o público e o privado se acasalam em organizações criminosas. Quadrilhas chefiadas pela fina flor do empresariado e dos políticos que usam o Estado, distorcem a gestão pública e o sentido do voto, retiram dos partidos sua capacidade de representar os interesses comunitários, tornando-os clubes patrimonialistas. Portanto, a crise ética afeta, mortalmente, o funcionamento das instituições democráticas e republicanas.

Fato novo: prisão de figuras até então intocáveis.

Prisão decorrente de processos que têm começo, meio e fim, com sentenças punitivas de líderes empresariais e políticos corruptos. Fruto de trabalho especializado, coordenado, abrangente ao ponto de alcançar quase todos os partidos políticos, mas sem colocar em risco a República e a democracia. O Brasil será outro no fim dessa agonia. Daí o meu otimismo.

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