O Açude de Boqueirão (1ª parte)

Muito anteriormente à construção do açude, como o temos hoje, o lugarejo chamava-se Villa de Piranhas. Pela Lei Estadual nº 424, de 28 de outubro de 1915, a vila passou a distrito, subordinado ao município de Cajazeiras.

A vila ou distrito, como o queiram, berço do Senador Raimundo Lira, continua na mesma, mas, mais adiante, trocou de nome. Antes de mais nada, vamos corrigir o nome atual: Engenheiro Ávidos (palavra proparoxítona) e não Avidos (paroxítona), como alguns ainda teimam em pronunciar.

Agora, um pouco da história: o despertar do interesse pela construção do açude surgiu na população de São José de Piranhas, justamente diante da calamidade provocada pela seca de 1915, aquela mesma que deu margem ao enredo perpetuado por Rachel de Queiroz, no seu romance “O Quinze”.

Deve-se ao prefeito dali, na época, professor Sabino Nogueira de Vasconcelos, o primeiro apelo feito ao então Presidente da República, Venceslau Brás Pereira Gomes. Nada, porém, foi feito.

Careceu de vir a seca de 1919, a fim de que um grupo de várias senhoras da sociedade piranhenses viesse a dirigir-se à primeira dama da República, dona Mary Sayão Pessoa, esposa do então Presidente Epitácio Pessoa, dizendo do estágio de calamidade pública em que se achava a população sertaneja paraibana, como de resto do Nordeste do país.

Este, atendendo à esposa, determinou que o antigo INFOCS – Inspetoria Federal de Obras Contra Seca – tomasse as providências necessárias e desse início aos trabalhos de construção não somente do açude barragem do rio Piranhas, mas, como de resto, de outros açudes, obras reclamadas pela população paraibana.

De pronto, foi contratada uma construtora dos USA, a Dwight P. Robinson & Co. Os trabalhos, no entanto, somente foram iniciados em 1º de julho de 1921, quando o “sufoco” das secas havia diminuído. Trabalhos iniciados, o novo Presidente da República, Arthur Bernardes (1922/1926), determinou a suspensão da construção de açudes em todo o Nordeste brasileiro. Editoriais da época dizem que essas malfadadas providências advinham da estreiteza de mentalidade, que hoje domina alguns políticos brasileiros, de não darem continuidade a obras iniciadas em governos anteriores.

Por sinal, a Paraíba é pródiga dessa mentalidade tacanha e dela poucos escaparam, como, por exemplo, o nosso conterrâneo Ivan Bichara, que nunca se escusou de dar continuidade a obras iniciadas em governos anteriores. A história prova o que estamos dizendo. Basta revê-la.

Voltando ao assunto. Somente com o advento cíclico das secas de 1931 e 1933 é que o então Presidente da República, Getúlio Vargas, determinou ao Ministro de Viação e Obras Públicas, o paraibano José Américo de Almeida, que desse continuidade aos trabalhos paralisados sob a tutela do Arthur Bernardes.

Assim determinou e assim foi feito: os trabalhos do açude de Boqueirão foram reiniciados em 20 de junho de 1931, a partir de um projeto concebido pelos engenheiros Luís Vieira, Vinicius Barreto e Moacyr Monteiro Ávidos.

Porém, um novo flagelo das secas provocou uma calamidade de doenças infectocontagiosas, ensejando a criação de cemitério improvisado em cujas covas rasas os que morriam eram jogados.

Foi, então, determinada a construção de um hospital, equipado com leitos, ambulatório, remédios e enfermeiros e um médico – o Dr. Francisco Carneiro – que, juntamente com o chefe de enfermaria, Romeu Menandro Cruz, lograram salvar algumas vidas. (Continua)

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