Não vai ter golpe

Percebe-se uma permanente conspiração contra o Estado Democrático de Direito protagonizada por personalidades públicas, inclusive ocupando cargos de relevância na estrutura administrativa do país. A ameaça de golpe tornou-se uma insistente forma de intimidar adversários políticos, na tentativa de passar a impressão de que têm condições de efetivar tal desejo. Repetem-se sistematicamente as agressões ás instituições, para testar sua capacidade de resistência. É uma clara estratégia de solapar os princípios constitucionais, na busca de concretizar o ato de ruptura democrática.

Impulsos autoritários têm estimulado os golpistas à criação de situações que possam colocar em risco a normalidade democrática. Na minha compreensão não passam de bravatas. Eles sabem que o Brasil não teria condições de manter um regime de exceção, aos moldes do que aconteceu em 1964, porque não suportaria os boicotes internacionais que inevitavelmente aconteceriam. Não consigo ver no cenário político contemporâneo espaço para golpes, apenas para discursos neste sentido. Sinceramente não imagino as Forças Armadas entrando nessa aventura golpista.

Existe o propósito de criar um ambiente de confusão política para facilitar a interpretação de que poderá acontecer um golpe militar. Não acredito que haja, por parte da maioria dos integrantes das Forças Armadas brasileiras, disposição para embarcar nessa onda golpista. As circunstâncias da atualidade são bem diferentes das que vivenciamos em 1964. Naquele tempo havia um consenso em torno de um inimigo comum, o comunismo, que mobilizava muita gente, contando com o apoio da igreja católica, além da grande mídia e até de lideranças políticas democráticas. Havia também uma unidade militar apoiando o golpe. Não há, no momento, consenso nos quartéis quanto à necessidade de uma intervenção militar.

O populismo da ultradireita não consegue somar apoios da população em índices majoritários. Portanto, falta força popular para lastrear um golpe institucional. Não se identificam lideranças capacitadas para concretizar esse desejo autocrático. Os arroubos golpistas têm provocado mais reações contrárias do que aplausos. Por mais que tentem apagar da memória nacional os crimes praticados pela ditadura militar, eles continuam lembrados para a grande maioria dos brasileiros que não deseja repetir esse tenebroso momento da história nacional.

A despeito de profundas divergências ideológicas e pragmáticas, há uma unidade política contra qualquer projeto golpista. Todo esse movimento não passa de blefe. Não haverá golpe. Não perco um minuto do meu sono com essa preocupação. Esses delírios não me perturbam. Até porque as ruas voltaram a falar.

Aliás, o único golpe possível, já está acontecendo, é o do centrão no atual governo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Serena de ideias

A tela mista faz nascer a vontade de estabelecer um diálogo ainda mais heterogêneo com quem vai receber…
Total
0
Share