O obscurantismo de agora

Muito triste constatar, mas estamos mergulhando num lamentável estado de obscurantismo em nosso país. A palavra vem do latim, “obscurans”, que significa “esquecimento”. Há uma deliberada determinação em fazer com que fatos ou temas não se tornem conhecidos. Mais do que isso, percebe-se o interesse em apagar a memória que desagrada aos detentores do poder ou distorcer realidades para atendimento de demandas escusas.

É um retrocesso que agride o que se possa entender por racionalidade. Mas a idéia é provocar confusão mental coletiva. Preocupante essa visível aposta no desconhecimento para alcance de objetivos desconectados com o mundo real. O obscurantismo dá força ao autoritarismo, à prepotência. O propósito é inibir o senso crítico, fazendo prevalecer “verdades” impostas, mesmo que contrárias à realidade.

Imperativo se faz criar uma força de resistência a esse intento. Não podemos fugir do pensamento lógico, nem da coragem em contestar velhos valores ultrapassados e retrógrados. O despotismo consegue conquistar espaços quando o povo se aliena. O mundo está em movimento. As transformações são impreteríveis. Não se encontra o caminho da justiça social sem a consciência crítica.

Experimentamos uma sensação angustiante de que prevalece uma descrença no novo, na evolução das ideias. É como se estivéssemos nos submetendo a uma tortura psicológica. O que vemos é, ao invés do esquecimento de um passado que nos massacrou, homenagens feitas às práticas nefastas de sistemas de governo que só nos fizeram mal. Os discursos e as atitudes procuram induzir a opinião pública a rejeitar os avanços civilizatórios, inibir a luta em defesa da igualdade perante a lei e a assumir postura de passividade diante dos abusos de autoridade. Assusta-nos constatar que já não se defende as liberdades democráticas. É explícito o desejo de retorno a situações que vivenciamos em épocas pretéritas. Os obscurantistas insistem em não raciocinar com sensatez, seguindo à risca a famosa frase do general José Millán Astray, de grande prestígio na Espanha, proferida em 1936, por ocasião da abertura do ano letivo da Universidade de Salamanca, levantando a bandeira da intolerância: “Abajo la inteligência, viva la muerte”. Prefiro a resposta de Miguel Unamuno, na mesma solenidade: “Vencer não é convencer. Para convencer há que persuadir e para persuadir necessitaríeis de algo que vos falta: razão e direito na luta”.

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