Fome no celeiro do mundo

Números discrepantes entre a produção de alimentos e a fome no Brasil projeta luzes sobre um terrível paradoxo brasileiro que intriga o mundo. Como justificar ou mesmo explicar as razões e as causas que levaram o país maior exportador de alimentos do mundo que alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no planeta, reconhecido como o celeiro do mundo, possuir em seu território mais de 33 milhões de compatriotas em situação insegurança alimentar.

Não gosto do termo “Insegurança alimentar” [coisa de tecnocrata pedante] o que temos no Brasil é fome mesmo: segmentada em três patamares, leve, moderada e grave, elas constam na recente pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) que aponta dados estarrecedores. Em pouco mais de um ano o Brasil ganhou mais de 14 milhões de novos famintos, apenas 4 entre 10 famílias brasileiras se enquadram faixa de segurança alimentar plena, nas casas onde há crianças com menos de 10 anos, a proporção de insegurança alimentar grave ou moderada chega a vergonhosos 40% em todos os estados da região norte e em sete dos nove estados do Nordeste.  

Afinal, o Brasil voltou ao mapa da fome? Voltou sim! Pela primeira vez em 18 anos percorremos o caminho inverso rumo ao Mapa da Fome (Indicador social da ONU que indica os países nos quais mais de 5% de sua população ingere menos calorias do que o necessário). No Brasil, credita-se como um dos fatores determinantes para o retorno ao mapa da fome, o maior desastre econômico do século, entre 2014 e 2016, no governo, Dilma que deixou as contas públicas em frangalhos.

Posso elencar, na conjuntura atual, como causas do aumento crescente da fome no mundo quatro fatores: o conflito armado na Ucrânia, choques econômicos, climáticos e a recente crise pandêmica. A guerra na Ucrânia colapsou o maior produtor de alimentos da Europa impulsionando o preço do trigo a níveis estratosféricos; o Brasil viveu sua maior crise hídrica dos últimos cem anos; a pandemia deixou o mundo de joelhos destroçando toda cadeia produtiva global de produção e logística, gerando e agravando crises econômicas, mundo afora como a da Venezuela e da Argentina.    

Entendo que os programas emergenciais de transferência de renda que chega a consumir até 1,5% do PIB, tipo Auxílio Brasil, apesar de imprescindíveis, são apenas paliativos, não resolvem o problema. O brasileiro passa fome porque não tem renda e encontra-se endividado.

Parte da solução reside na implantação de um robusto programa de redução da desigualdade social, com políticas públicas de alfabetização, capacitação e inserção no mercado de trabalho. Essa sim, é a grande a saída.

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