João de Deus Holanda: perda ilustre

A primeira notícia que me vem à mente sobre João de Deus foi num baile de carnaval no Tênis Clube, no século passado, em que se parou a orquestra e se anunciou o falecimento de Ivone Cavalcanti Holanda, irmã de José Cavalcanti, que soube que era casada com João de Deus Holanda, então houve uma reunião da diretoria, em que se decidiu se o baile continuaria ou não, e a gente, garotada que queria se divertir; queria a continuação da festa, e a decisão foi a seguinte: o baile continuaria, mas sem os frevos apimentados, somente com marchas compassadas, ou seja: um baile comportado, em respeito à família enlutada. Depois eu soube que Ivone e outra pessoa estavam tomando banho no rio que passa pela fazenda Acauã, e uma barragem a montante arrombou e elas não tiveram tempo de escapar: ouvi comentários que corpos foram resgatados até em copas de árvores.

Mas é apenas uma reminiscência, o fato, é que João de Deus Viúvo, tomou o papel duplo de pai e mãe, e conseguiu criar seus filhos, em que nenhum veio a ser a “ovelha negra” da família, todos bem criados, e eu tenho a honra de gozar da amizade de dois de seus filhos Irlânio e Irley. Cada um ocupando seu espaço com a dignidade que foi ensinada por seu pai. Um exemplo a ser seguido pelas famílias de hoje.

Outra característica interessante de João de Deus, era a sua devoção Rodrigueana (de Nélson Rodrigues) pelo Vasco da Gama, em que como todo torcedor fanático (como eu o sou pelo Botafogo), chegava distorcer os fatos e inventar estórias, isso, com mito bom humor, era uma delícia ouvir suas versões vascaínas na Macic, quase todas as manhãs, com aquela expressão séria, sisuda, que a gente sabia ser apenas para dar um charme à gozação.

Dirigiu a Boutique que sua mulher deixou junto com Irlânio do melhor modo possível, mesmo depois do incêndio que consumiu o prédio inteiro, que em última análise “foi escolhido” para mostrar a situação precária em que se encontram todos os prédios do centro de nossa cidade, que com uma fiscalização mais rigorosa, podiam ser evitados. Não foi o primeiro nem será o último, o que tem de instalações em mau estado de conservação, escondidas por cima desses forros, faz de Cajazeiras uma enorme Boate Kiss.

Mas Irlânio e seu pai, que nos deixou há pouco, conseguiram manter a loja em funcionamento, o que já é um feito extraordinário.

Pois é, caro leitor, essa figura querida por todos nós nos deixou e deixa mais empobrecida nossa já pobre cidade.

Fica a lembrança de todas as coisas boas que ele nos legou.

Fico.

P.S. – Dedico essas linhas a meu primo, mais por afeto do que por consanguinidade (nossas avós eram irmãs), Walberto Matos Jurema, filho de João Jurema, ex-Procurador da República de nosso Estado, e de Ilina Matos Jurema, filha de Dona Adalgisa Matos. Beto morava em João pessoa e foi vítima de um câncer..

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