Famílias de presidente

Qual concepção e compreensão de família institui um discurso governamental berrado em palanques e “cercadinhos”, com fortes traços, riscos e tintas de farsa, ódio e desfaçatez?

Um discurso contaminado por ingredientes farisaicos que esconde Deus atrás de biombos de ódio. Um Deus vingativo, homofóbico, racista, machista. Um Deus que, negando seu ensinamento basilar, de que está entre os homens “para quem todos tinham vida, e vida em abundância”, justifica a fome, a morte, a peste, a violência como situações naturais e as traduz com um desdenhoso: “e daí!”.

A qual família este discurso remete?

As famílias que se degradam em situação de rua, vitimadas pelo frio, pela violência, pela invisibilidade social, política, afetiva. Famílias expostas a riscos e despidas das mínimas condições de preservar e conservar a dignidade, a autonomia, a linguagem de se fazer e se dizer gente.

A qual família este discurso nos remete?

A família dos mais de seiscentos mil brasileiros que morreram vitimados pela COVID 19. Famílias esmigalhadas diante da negligencia, irresponsabilidade e perversão política de um presidente que adota como política de estado a barganha, a fraude, a negação da ciência. Exibindo em falas toscas e frases imbecis posições e posturas que destoam, visceralmente, da conduta ética e da sensibilidade política que os modernos preceitos das democracias burguesas receitam como aceitáveis.

De qual família este discurso fala?

Das famílias que catam ossadas e carcaças em latões e caminhões de lixo. Ossadas e carcaças que se constituirá, com farelos de arroz, a mais “decente e nutritiva” refeição da família em semana. Ossadas e carcaças disputadas com cães e abutres, num espetáculo que arranha, em profundidade, a mais brutal personalidade humana.

A qual família esse discurso nos aponta?

As famílias de milicianos que, a revelia do oficial, mas com sua complacência, controlam lugares e gentes, estabelecem e definem condutas, elegem e executam as ordens e regras de quem vive e de quem morre. Famílias que, debochando da fome, da dor, da angustia de um país com suas famílias imersas na pobreza material, política, ética, esbanjam e escancaram sorrisos em bordas de milionárias mansões pagas com o fruto da propina, da extorsão, do crime institucionalizado e protegido pela generosa e afável mão do poder que, a elas apenso, as faz uma instituição, paralela, mas estimulada e incentivada, de exercício de mando.

Isto são apenas reflexões acerca de um discurso presidencial em rincões paraibanos!

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Tigé

Quando eu perambulava pelos corredores e pátios da Escola Cristiano Cartaxo, o Polivalente, já ouvia falar muito bem…
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