Estórias de crianças

Já para os fins dos anos 40, eu e minha turma éramos assumidamente crianças, de fato, de direito e de responsabilidades… Era um tempo em que, tanto entre crianças quanto entre adultos, não havia ainda a famigerada divisão de classes – os pobres, os ricos e a classe média – ou era-se pobre ou rico –, mas, para nós, não se estabelecia uma linha divisória: éramos apenas crianças, amigos de escola e de brincadeiras saudáveis.

Uns frequentavam o Grupo Escolar ou o Grêmio Artístico, e outros, os de maiores posses, o Salesiano ou, algumas vezes, tinham a educação escolar confiada a professores particulares – professores Crispim, Paulo Martins, Mangueira, Paulo Ivo, e professoras Vitória Bezerra ou Carmelita Gonçalves, entre outras mais… Mas, isso pouco nos importava ou importunava. Éramos simplesmente amigos.

Aos sábados, íamos à sessão das 19:45 h no Cine Éden (ainda não havia o Cine Cruzeiro, de Eutrópio, muito menos o Cine Pax, de Dom Zacarias). Durante a semana, o divertimento era tão bom quanto… Como ainda não havia chegado a praga dos jogos internáuticos nem os watzaps da vida, nós nos reuníamos para as tradicionais brincadeiras: preso solto, academia, bicheira e por aí vai… (À noite, não jogávamos bola de meia, pois a iluminação pública era precária. O motor da luz dava o primeiro sinal às 20:45 h,  e todas as luzes da cidade eram desligadas pontualmente às 21:00 h.) Mesmo assim, costumávamos estender as brincadeiras para além desse horário.

Nas telas do cinema, exibia-se o seriado “O Caveira” (chamávamos “A Caveira”). Uma bela noite, já com a luz elétrica desligada,  mas com o céu sertanejo sendo iluminado por uma bela lua cheia, divertíamo-nos no “preso solto”, nas calçadas residenciais de Dr. Juca Peba e de Seu Benedito, cuja casa ficava na esquina fronteiriça à primeira e, então, resolvemos adentrar a construção da Catedral, que ainda era meio incipiente ou mediana.

Ora, vejam só!… Aranha, famoso e muito conhecido atleta do nosso querido Atlético, em sabendo de nosso inocente divertimento, resolveu nos pregar um susto: usando uma capa preta (não se sabe onde diabo ele a arranjou), fantasiou-se de caveira para nos amedrontar.  Mas, não é que assustou mesmo!… Somente no outro dia é que soubemos se tratar dele e não se falou mais nisso. Amigos são amigos!

E dessa época e desse fato lembro-me bem, participavam Antônio de Sousa e o irmão Rosalvo, um dos filhos do Dr. Juca (não me lembro qual era deles), o primo Carlos Paulo, os irmãos Deodato (que era um bom craque de futebol, antes da moléstia que o acometeu), Bosco e Zé Almir (sobrinhos de Braguinha), Cláudio, filho de Hilário Moreira e muitos outros cujos nomes se sumiram na poeira do tempo. Realmente, vale o bordão: “éramos felizes e não sabíamos” e muito menos perscrutávamos o nosso futuro.

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