E isto virou casa de Noca

A questão, embora ressurja com assiduidade no palco das discussões, tem sua pertinência e relevância: como estamos administrando a ocupação do espaço urbano de nossa cidade? Se considerarmos o olhar ligeiro e inicial que lançamos sobre a cidade o que é captado pelo nosso campo de visão é uma imagem de caos e de desleixo. Em todas as direções e em todas as áreas da cidade, seja nos bairros mais “nobres” seja nas áreas mais populares, são visíveis as expressões e manifestações de total omissão do poder público no exercício de sua função de disciplinar e regulamentar as ações e procedimentos que orientem como os cidadãos devem ocupar e usufruir das áreas urbanas.

Construções são realizadas utilizando calçadas e ruas como depósito de entulhos e de material de construção. Restos de demolições partilham o espaço público com tijolos, brita, areia. Por meses a fio, além de enfear a cidade, poluir ruas, essa bárbara atitude de privatizar o público compromete a trafegabilidade de veículos e pedestres, afetando, sobretudo as condições de acessibilidade para portadores de deficiências e pessoas idosas.

Outros olhares nos revelam ainda que a omissão governamental em gerenciar, com um mínimo de competência e civilidade, o nosso espaço urbano produz quadros dantescos, como a transformação de calçadas e fachadas de casas e lojas em espaços para a prática do mau gosto estético e arquitetônico. A aberração de cores e materiais se associa ao fato de que muitos consideram que podem construir rampas, degraus, desníveis em suas calçadas apenas movidos por motivações e pretensões pessoais. Não consideram, e sequer são advertidos, de que calçadas são espaços públicos para a trafegabilidade de pessoas. Portanto, carecem ter um encadeamento, uma linearidade e uma harmonia com todo o conjunto urbano. Calçadas não são escadarias. Não devemos esquecer.

Nosso olhar também capta o abandono e descuido da cidade quando nos deparamos com o descaso governamental que acompanha o crescimento urbano da cidade. Nos últimos anos, sobretudo, a partir de um impulso na área da construção civil, surgiram muitos loteamentos em todas as direções. Todos foram autorizados sem a preocupação com a qualidade de vida de quem irá ocupar estas áreas. Os espaços destinados a construção de equipamentos sociais, como praças, igrejas e templos, postos de saúde, escolas, representam minúsculos pontos. Em muitas dessas áreas, córregos e riachos são aterrados, a vegetação é derrubada e, em nenhuma das plantas de loteamentos liberados pelo poder público se cobra a conservação de áreas verdes, sobretudo, de preservação de nossa vegetação nativa. Sequer, se pensa como conviver nessa região que, em função das estiagens naturais, enfrenta gravíssimos problemas de abastecimento de água.

A discussão aberta, ampla e com a efetiva participação de todos os segmentos da cidade se apresenta como imediata e necessária. Pensar uma política de planejamento e desenvolvimento do espaço urbano, disciplinando seu uso e sua expansão de maneira coerente, sustentável e com implicações futuras é uma responsabilidade de quem, em nome do povo, exerce o poder. Antes que isso vire casa de Noca.

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