De repente a fome

Logo depois que os seiscentos reais que o governo do presidente Bolsonaro enviou durante meses para milhões de brasileiros, e agora sessou, não se tem falado em outra coisa a não ser na fome que muitos filhos desta Nação estariam passando. Infelizmente os números mostram a existência de grotões de miséria por restes brasis afora.

Presenciei esta semana, numa fila de uma lotérica, várias pessoas aos berros, que o novo abono, entre 150 e 350 reais era uma miséria e que não dava para nada, quando de repente apareceu uma jovem mãe de família a dizer: – porque vocês estão nesta fila para receber estes míseros tostões? E retrucou: dou graças a Deus pelo que estou recebendo hoje.

Nem Jesus agradou a todos, inclusive foi vendido por trinta moedas por um dos seus seguidores.

Não se discute que a Bolsa Família consagra-se como o maior programa de transferência de renda em prática no Brasil, mas se torna também, da maneira como vem sendo executado nas bases, como o maior cabo eleitoral, a serviço de alguns gestores corruptos e de dirigentes, que a cabo de cada ano eleitoral, transforma-os em vereadores. Muitas vezes, a família que é contemplada, fica na obrigação de acompanhar politicamente o agente público que a incluiu no programa.

Embora os recursos sejam oriundos do governo federal, cabe aos municípios o cadastramento e a fiscalização e muitos dos gestores, a nível municipal, manipulam de forma indecorosa, vergonhosa, escandalosa a maneira das famílias ingressarem no programa, incluindo muitos privilegiados e excluindo os necessitados entre os grupos carentes.

Como banir, como isolar o vírus do favorecimento? Vejo com profunda tristeza um brasileiro se prostrar diante de um agente público municipal, expondo-se de forma humilhante, implorar, rogar a sua participação no programa. É extremamente vergonhoso se constatar que mulheres de vereadores, filhos de fazendeiros, esposas de graduados funcionários públicos, recebem benefícios dos programas sociais do governo federal.

São muitas as denúncias, principalmente nos pequenos municípios, que se constituem em verdadeiros grotões de miséria, onde medra a ignorância, o analfabetismo, o desemprego. Nestes municípios, tentar impor ou quebrar as barreiras “do coronelismo político”, onde o poder de mando dos prefeitos sobre os subordinados é ditatorial, inquestionável e subserviente se torna impossível quebrar esta estrutura de domínio, e aí morre grande parte dos objetivos do programa, tornando-o um mero instrumento de fazer política.

Quanto é triste se morar num município onde não existe alternativa nenhuma de trabalho, ou onde um dos únicos meios de se ter míseros reais no final de cada mês no bolso, ou seja, o equivalente a dois reais por cada dia, oriundos da distribuição de renda do país. Uns acham que é uma dádiva dos céus e chegam até a fazer promessa para ser contemplado com bolsa família. Que tristeza!

No meio de tanta miséria é difícil impor critérios da partilha, da distribuição de renda e em muitas regiões consagra-se a fraude quase com uma regra, aonde muitos espertalhões chegam até fazer festas com o dinheiro de programas sociais, em detrimento da possibilidade de minorar a fome das levas de miseráveis que circundam as periferias de muitas cidades, principalmente as do Nordeste.

Até quando vamos continuar alimentando os grotões de miséria com bolsa família?

Estamos diante de uma triste realidade, onde se anuncia que o Brasil tem milhões de outros desvalidos da sorte, os desempregados, os informais ou outros nomes que queiram nomear, mas o fato é que deverá chegar às mãos desses, um bom aporte de recursos, durante 120 dias, para amenizar a sua fome, mas fica uma pergunta? E depois, como vai ser? 

Tenho rezado todos os dias para que estes bilhões de reais que o governo federal tem mandado para os estados e municípios sejam honestamente aplicados e não para enriquecer, de forma ilícita, muitos políticos deste imenso Brasil.

Que Deus nos guarde e livre desta pandemia, amém!

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